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"Na Moral" vive o conflito de ser leve, mas querer parecer profundo

Mauricio Stycer

05/07/2013 05h01

Na estreia da segunda temporada, o programa "Na Moral" tratou da descriminalização do consumo de drogas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje o mais célebre defensor da causa, entrou em cena ao som de "vou apertar, mas não vou acender agora", cantado por Marcelo D2, conhecido militante da causa. Dois usuários que terminaram na cadeia sob acusação de tráfico de drogas deram os seus depoimentos. E o apresentador Pedro Bial foi a Portugal mostrar a política progressista adotada no país.

No esforço de produzir algum contraponto, "Na Moral" promoveu dois "debates". No primeiro, um delegado e um militar apresentaram visões divergentes sobre o combate ao tráfico de drogas. No segundo, dois psiquiatras divergiram sobre os efeitos das drogas. Para concluir, Fernanda Montenegro deu um depoimento simpático aos usuários.

Tudo isso em 30 minutos.

"Alguém mudou de opiniao depois desta discussão?", pergunta o apresentador ao auditório depois do debate entre os policiais. Repete a pergunta após a acalorada discussão entre os psiquiatras.

A pergunta do apresentador expõe o problema central de "Na Moral".  Bial sabe que é impossível mudar de opinião sobre um tema tão delicado depois de ouvir duas pessoas divergindo por dois ou três minutos. Cada vez mais bem produzido e editado, é um programa leve, destinado a "levantar bolas", apresentar problemas contemporâneos, sem a pretensão de solucioná-los. Mas se sente na obrigação de parecer sério, profundo, responsável, o que não é.

Esse conflito entre o que o programa é, de fato, e o que parece ser produz duas impressões. Para o espectador simpático às causas apresentadas, "Na Moral" é tão bom que deveria ter uma duração maior. Para aquele que diverge das bandeiras defendidas, o programa pode soar bem incômodo.

Atualizado às 18h30: "Na Moral" marcou 8 pontos no Ibope, quatro a menos que na estreia da primeira temporada, em 2012. No horário, o programa perdeu da "Fazenda", da Record, que registrou 9, e empatou com a programação do SBT. Veja aqui.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.