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Em livro, Silvio de Abreu justifica por que suas vilãs tiveram finais felizes

Mauricio Stycer

03/09/2013 05h01

Definido por seu autor, Raphael Scire, como uma "homenagem" a Silvio de Abreu, o livro "Crimes no Horário Nobre" (Giostri, 372 págs., R$ 60) revê a trajetória e a obra de um dos mais importantes novelistas do país.

Numa das passagens mais interessantes, Silvio explica por que contrariou o público e decidiu dar finais felizes a duas vilãs de novelas suas, Bia Falcão (Fernanda Montenegro), de "Belíssima" (2005), e Clara (Mariana Ximenes, foto), de "Passione" (2010): "Não adianta eu fazer com que a Bia Falcão seja castigada para fazer a catarse do público, e ele achar que vive em um país maravilhoso, se a sociedade continua sendo hipócrita".

Em outras palavras, o novelista vê uma espécie de papel educativo no triunfo do vilão: "Ao fazer a catarse – mocinho é recompensado e bandido é castigado – não deixamos o espectador pensar. Quando o contrariamos, ele fica discutindo: por que o vilão foi solto?"

Para fãs e estudiosos, o livro traz descrições detalhadas de cada uma das 16 novelas que Silvio escreveu, desde "Éramos Seis" (1977), na TV Tupi, até o remake de "Guerra dos Sexos" (2012), na Globo.

"Crimes no Horário Nobre" é a segunda biografia de Silvio de Abreu. A primeira, "Um Homem de Sorte" (Imprensa Oficial), de Vilmar Ledesma, foi publicada em 2007. Scire atualiza o trabalho anterior e acrescenta inúmeros depoimentos de atores, diretores e autores que trabalharam com Silvio, todos enaltecendo qualidades do autor.

Scire considera que o seu biografado "revolucionou as telenovelas" com a versão original de "Guerra dos Sexos" (1983), e "A Próxima Vítima" (1995). Não a toa, são os trabalhos descritos com mais detalhe no livro.

"Crimes no Horário Nobre" relata os desentendimentos de Silvio com Regis Cardoso, diretor de "Pecado Rasgado" (1978), a primeira novela do autor na Globo, e com Paulo Autran, que deu declarações depreciando o gênero das telenovelas enquanto atuava em "Sassaricando" (1987).

Também trata das novelas que não deram tão certo quanto o autor esperava. Caso de "Deus nos Acuda" (1992), "As Filhas da Mãe" (2001), encurtada por causa da baixa audiência, e de "Rainha da Sucata" (1990), atualmente sendo reprisada pelo canal pago Viva (foto): "A audiência era boa, o público parecia se divertir, mas ninguém comentava. E eu sou de opinião de que novela deve ser como catapora, precisa pegar", diz Silvio.

Curiosamente, Silvio não aceita considerar como insucesso uma novela que claramente não pegou, o remake de "Guerra dos Sexos" (2012): "É ridículo cobrar de uma novela das sete que só pretende divertir um posicionamento intelectual com relação ao que quer que seja. Como artista não sou obrigado a passar mensagem ou a educar a plateia. Meu único objetivo é entretar as pessoas".

Em tempo: uma entrevista de Silvio de Abreu ao UOL sobre o livro e a sua carreira pode ser vista aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.