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“Flor do Caribe” cumpre bem a missão de entreter sem enrolar

Mauricio Stycer

14/09/2013 16h03

"Não adianta querer reinventar a novela se ela não tiver um pé no velho folhetim", costuma dizer Walter Negrão. A frase foi repetida no programa "Encontro com Fátima Bernardes", exatamente no dia (13) em que iria ao ar o último capítulo de "Flor do Caribe". É uma ideia que ajuda a entender a ambição e, de certa, as limitações deste seu mais recente trabalho.

Escorada em uma história clássica, o triângulo amoroso formado em torno da disputa de dois amigos de infância (Alberto e Cassiano) pela menina linda (Ester), "Flor do Caribe" cercou-se ainda de vários outros elementos tradicionais em uma novela das 18h.

Seja em aspectos da trama, como a clássica história do jovem (Helio) que tem vergonha dos pais e cuja ambição desmedida o leva ao mau caminho, seja em elementos periféricos, como a profusão de paisagens espetaculares e o desfile de mulheres bonitas, foi uma novela pouco surpreendente.

Por outro lado, "Flor do Caribe" arriscou-se ao falar de um tema pouco comum em novelas brasileiras, a presença de um ex-criminoso nazista no país, e foi bastante didática, por meio dos personagens Dionísio e Samuel, ao explicar os crimes cometidos, há 70 anos, contra judeus, ciganos e gays, entre outros, na Alemanha.

Ao longo de 162 capítulos, "Flor do Caribe" foi uma novela sem grandes sobressaltos, sem personagens ambíguos. Morna? Talvez, mas reconfortante de ver. Ao mesmo tempo, ainda que sem "ganchos" eletrizantes, foi uma história sem "barriga", sem enrolação.

E acho que este foi um dos méritos de Negrão – a preocupação em escrever uma novela em que os pequenos dramas eram apresentados e solucionados quase sempre em questão de dias.

Um dos autores mais experientes em atividade, ele havia dado a entender, em diferentes entrevistas, que escreveu "Flor do Caribe" preocupado em entender a evolução do comportamento do público diante das novelas. "Em 'Avenida Brasil' o João Emanuel (Carneiro) e sua equipe deram uma verdadeira aula de como fazer isso que chamo de surpreender", disse numa conversa com este blog em abril.

Outro mérito da novela, e aqui repito a avaliação feita por Nilson Xavier em seu blog, foi o excelente trabalho do diretor Jayme Monjardim e sua equipe – tanto o cuidado com as imagens quanto com os atores.

A aposta em um ator pouco conhecido, Igor Rickli, para viver o vilão mostrou-se muito acertada. O texto de Negrão ofereceu grandes momentos ao ator, bem como à Cláudia Netto, que viveu sua mãe. Também gostei muito de Sergio Mamberti e Luiz Carlos Vasconcelos.

Relendo o que escrevi após ver a primeira semana da novela, encontrei a seguinte observação: "Pensando na safra muito irregular dos últimos anos, na qual o número de decepções é superior ao de destaques, creio que justifica-se festejar uma novela por oferecer ao espectador ao menos o básico necessário para o entretenimento."

"Flor do Caribe" teve uma audiência média de 21 pontos, mais que "Lado a Lado" (18 pontos), que a antecedeu, mas um pouco menos que todas que vieram antes: "Amor Eterno Amor" (23), "A Vida da Gente" (22), "Cordel Encantado" (26) e "Araguaia" (23), a anterior de Negrão.

Abaixo, um resumo, em fotos, do último capítulo da novela, cujo final foi muito bom e surpreendente.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.