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Carrasco aplica terapia de choque no espectador de “Amor à Vida”

Mauricio Stycer

18/09/2013 05h01

Já escrevi sobre como "Amor à Vida" me parece uma novela em que a história é menos importante do que o objetivo de provocar impacto e causar polêmica. Tentei desenvolver o argumento depois da cena em que Edith (Barbara Paz) chocou a família Khoury ao anunciar, durante um jantar, que o marido, Felix (Mateus Solano), é gay.

O capítulo desta terça-feira (17) mostrou mais uma vez a técnica de Walcyr Carrasco. Sem sutileza, ele tentou nocautear o espectador com uma sucessão de golpes fortes, mesmo que ao preço de deixar o bom senso e a lógica de lado.

Num capítulo que durou 62 minutos, Pilar (Susana Viera) flagrou o marido, Cesar (Antonio Fagundes), com a amante (Vanessa Giácomo), deu uma surra na rival, depois contou tudo para a família, bebeu um uísque, foi consolada pelo filho e, no fim da noite, perdoou e beijou o traidor, que se ajoelhou diante dela.

Já Cesar, além de tudo, no dia seguinte, ainda tomou café da manhã no quarto com a mulher, expulsou o filho de casa (enquanto bebia um uísque matinal), pediu ajuda ao amigo Lutero (Ary Fontoura) para cuidar do hospital e, na última cena, depois de sacar o talão de cheques para indenizar a amante, descobriu que ela está esperando um filho dele.

Além da falta de sutileza, da repetição de situações e da caracterização exagerada, a terapia de choque de Carrasco inclui, dependendo da situação, a ênfase em algum detalhe. Lembra quando Paloma (Paolla Oliveira) soube como o seu amado Bruno (Malvino Salvador) achou Paulinha?  Foi numa "caçamba", caso você não lembre. Pois então, naquele capítulo, para realçar o drama da situação, a palavra  foi citada 18 vezes por quatro personagens. Eu contei.

No capítulo desta terça-feira, quem mereceu todas as honras do autor foi a palavra "piranha". Contei 19 menções. Pilar, por motivos óbvios, foi quem mais falou: 10 vezes. Felix, o principal aliado da mãe, usou o termo três vezes. Aline, a vítima dos ataques, repetiu a palavra duas vezes, manifestando indignação de ser chamada assim.

Já Cesar  só recorreu ao palavrão uma vez, para negar que a sua amante seja profissional. A sua menção ocorreu em diálogo com o amigo Lutero, que falou duas vezes. Por fim, no que talvez tenha sido a menção mais surpreendente, Tamara (Rosamaria Murtinho), que não tem nada a ver com a história, meteu a sua colher na discussão familiar e também chamou a moça de "piranha" uma vez.

Atualizado às 17h: Em tempo: Apesar da surra de Pilar em Aline, "Amor à Vida" marcou 38 pontos no Ibope, um a menos do que havia registrado na véspera e três a menos do que o seu recorde, de 41.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.