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“A Mulher do Prefeito” faz sátira leve aos usos e costumes da política

Mauricio Stycer

05/10/2013 01h31

O prefeito de Pitanguá perde o cargo, acusado de corrupção, e sua mulher, uma adestradora de cães, de uma hora para outra, se vê obrigada a assumir o lugar. Ela ocupava o decorativo cargo de vice-prefeita porque acreditou na conversa mole do marido de que jamais precisaria fazer qualquer coisa ao aceitar a posição.

Reinaldo (Tony Ramos) e Aurora Rangel (Denise Fraga) são como água e vinho. Enquanto ele desviou dinheiro público construindo um estádio de futebol padrão Fifa, o Pitangão, ela entende que o local deve servir de abrigo para os moradores do bairro mais pobre da cidade, que perderam suas casas numa enchente.

"A verba que o patrão desviou pra construir o estádio era toda pra minha comunidade", diz Consuelo (Luciana Carnieli), a empregada, ao pedir a Aurora demissão da residência da família Rangel.

Eis, em linhas gerais, o ponto de partida de "A Mulher do Prefeito", seriado em 12 episódios que a Globo estreou no pior horário de sua grade, às sextas-feiras, às 23h20, depois do "Globo Repórter". "Qualquer semelhança com a realidade é mera ficção", diz a chamada do programa.

A partir de uma ideia de Mauricio Arruda, "A Mulher do Prefeito" foi desenvolvido pela O2, de Fernando Meirelles, que já fez algumas parecerias com a Globo, como as séries "Cidade dos Homens", Antonia" e "Som e Fúria". A direção é de Luis Vilaça, marido de Denise, e o roteiro tem a assinatura de Bernardo Guilherme e Marcelo Gonçalves.

Sátira com referências óbvias à política brasileira mais rasteira, o seriado envereda por um caminho menos batido, ao girar em torno não do político corrupto, mas da personagem que dá título à história. Honesta e ingênua, Aurora Rangel faz o contraponto ao marido safado, infiel e aproveitador.

Sem a mesma riqueza que o trabalho mais recente de Vilaça e Denise, a série "3 Teresas", apresentado pelo GNT, "A Mulher do Prefeito" aposta numa abordagem mais leve e num humor mais direto, sem muita sutileza, mas ainda assim agradável, distante da grosseria.

Além de Tony Ramos e Denise, a série conta ainda com dois outros bons atores, Felipe Abid, como Seixas, o braço-direito do prefeito, que passa a assessorar a vice-prefeita, e Malu Galli, como Maria Fernanda, a presidente do clube de futebol da cidade, que tem uma queda por Rangel.

Na comparação com a última série que a Globo exibiu neste horário, "O Dentista Mascarado", "A Mulher do Prefeito" é um alívio. Enfim, uma comédia que diverte e faz rir.

Em tempo: Segundo dados prévios do Ibope, "A Mulher do Prefeito" registrou 15 pontos, dois a menos do que "Dentista Mascarado" em sua estreia. Último programa exibido neste horário, a novela "Saramandaia" teve audiência média de 15 pontos.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.