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“Joia Rara” confunde público com falta de rigor histórico no uso de músicas

Mauricio Stycer

28/01/2014 05h01

Ambientada entre 1935 e 1945, "Joia Rara" tem se revelado uma novela de época tradicional, na qual os acontecimentos históricos (no caso, o governo Vargas, a Segunda Guerra Mundial e as eleições) funcionam como pano de fundo ao desenvolvimento do melodrama.

Como outras produções do gênero realizadas pela Globo, a novela de Thelma Guedes e Duca Rachid (à dir.) impressiona pelos cuidados com cenários, figurinos e objetos usados em cena, destinados a reforçar o caráter histórico da trama.

Da mesma forma, vários eventos do enredo são condicionados pelo tempo (primeira metade do século 20) em que a história se passa, em especial os ainda limitados direitos das mulheres e o preconceito social manifestado sem disfarce.

Em um aspecto, porém, "Joia Rara" não tem preocupação com o rigor histórico. Como as autoras avisaram antes mesmo da estreia, o cabaré Pacheco Leão é "totalmente atemporal". Basicamente, isso significa que muitas canções interpretadas em números musicais exibidos pela novela são de outras épocas.

Só assim se explica por que, logo no primeiro capítulo, Lola (Leticia Spiller) cantou "Copacabana", sucesso de Barry Manilow, de 1978. Aurora Lincoln (Mariana Ximenes) já cantou, também em inglês, "Fever", outra música que veio ao mundo muito depois de 1945.

A confusão amentou na última semana, depois de uma cena em que Odilon (Tiago Abravanel) apareceu cantando "Primavera", de Cassiano, uma música que fez muito sucesso na voz de Tim Maia.

Os protestos foram tantos que, na página de "Joia Rara" no Facebook, apareceu um "esclarecimento", reproduzindo antigas declarações de Thelma Guedes sobre o assunto: "Vai ser difícil ver uma obra nossa que não tenha alguma coisa de fantasia. Isso é uma característica nossa. Em qualquer ficção, o que deve prevalecer é a verossimilhança, não a verdade. Você faz um contrato com o seu telespectador."

Na minha opinião, é justamente este "contrato" com o espectador que as autoras colocam em risco ao abrir mão do rigor histórico na escolha do repétório das vedetes de "Joia Rara". Telma e Duca têm o direito de colocar a música que quiserem na novela, mas se o público não entende por que um personagem está cantando "Primavera" a culpa não é dele.

Também é difícil de compreender essa opção sabendo que os anos 30 e 40 são riquíssimos em matéria musical no Brasil. É a época em que os grandes sucessos são assinados por compositores como Ary Barroso, Lamartine Babo, Pixinguinha, Braguinha, Ataulfo Alves, entre muitos outros.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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