Ótimo prólogo de “Em Família” podia ter sido uma minissérie
De volta à Goiânia, depois de um salto no tempo de 20 anos, Laerte (Gabriel Braga Nunes) revê o quarto onde passou a infância. Selma (Ana Beatriz Nogueira) percebe o olhar desolado do filho e diz: "Não sofra. Pense que o que passou, passou. E não há de voltar". Ao que ele responde: "Tudo pode voltar, mãe."
Exibida no oitavo capítulo de "Em Família", a cena explica por que Manoel Carlos dedicou tanto tempo e esforço a apresentar a novela na forma de um prólogo.
Ambientado em dois momentos diferentes do passado, ao longo da primeira semana, esta pequena novela dentro da novela foi um grande momento de teledramaturgia. Vista isoladamente, ela se sustenta como uma ótima minissérie. Entendida como uma apresentação de "Em Família", ela se mostra brilhante.
Houve falhas de produção e erros de continuidade, é verdade. Mas o essencial era oferecer ao espectador um grande número de dados sobre os anos de formação dos personagens.
Grandes tipos foram apresentados. Personagens ricos, complexos e distantes dos clichês, como as irmãs Chica (Juliana Araripe) e Selma (Camila Raffanti), tão próximas, mas radicalmente diferentes. Ou Virgilio (Nando Rodrigues), o garoto humilde que convive com a família rica. Ou ainda Felipe (Guilherme Prates), o adolescente que tem tudo à mão, mas começa cedo a ter problemas com bebida.
Melhor ainda, Manoel Carlos não facilitou a vida de quem achava que o prólogo iria oferecer respostas óbvias. De onde veio o ciúme doentio de Laerte (Guilherme Leicam)? Ou a ambiguidade de Helena (Bruna Marquezine)? E a inveja de Shirley (Alice Wegmann)?
O autor também presenteou o público, como já é hábito seu, com diálogos de primeira. Ao testemunhar a prisão de Laerte no momento em que iria se casar com Helena, a avó e a mãe de Shirley comentam. "Eu tava muito desconfiada da felicidade que esta família toda aparentava", diz a primeira. "Tava na cara que era tudo mentira. A felicidade e a família", observa a segunda.
Um tema importante foi discutido de forma bem madura no prólogo. No quarto capítulo, Helena conta para a tia, Juliana (Gabriela Carneiro da Cunha), que está grávida. Ambas discutem os prós e contras de um aborto sem recorrer a argumentos de caráter religioso. Depois, Helena cobra apoio do namorado. E, por fim, diante dos pais, os dois contam que estão esperando um bebê. Tem início, então, uma discussão em família, dramática, sobre todas as implicações daquela gravidez indesejada.
Ao ver como os protagonistas da trama viveram quando eram crianças e jovens adultos, o público teve a chance de imaginar várias histórias. Manoel Carlos ofereceu muitas pistas, mas não determinou nada. Tal procedimento chega a ser uma ousadia nos dias de hoje, em que autores têm a preocupação de entregar tudo mastigadinho para os espectadores.
Previsto para durar dez capítulos, o prólogo foi acelerado e se concluiu na metade do sétimo capítulo, exibido nesta segunda-feira (10). A baixa audiência da primeira semana teria sido determinante para esta pequena alteração no rumo.
O recurso adotado por Manoel Carlos de apresentar a novela em forma de prólogo não é nenhuma ousadia. Chega a ser convencional. Mas o veterano autor mostrou neste início que está em forma. Antes de chegar ao Leblon, "Em Família" começou muito bem.
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