Rafinha Bastos frustra quem esperava por novidades no “Agora É Tarde”
Mauricio Stycer
06/03/2014 01h25
O apresentador passa, o programa continua. Essa pareceu a principal proposta defendida pelo "Agora É Tarde" na estreia de Rafinha Bastos. É uma ideia, tudo bem. Mas, para quem esperava por frescor ou novidade, foi muito frustrante.
Ainda que mais enxuta, a estrutura do talk show da Band, antes apresentado por Danilo Gentili, não mudou muito. Quadros foram reaproveitados ("Passou na TV") ou adaptados de outras atrações (Gustavo Mendes como a presidente Dilma), a nova banda de música (liderada por André Abujamra) foi colocada em outro ponto do palco, um humorista da nova geração (Marco Gonçalves) fez participação especial e até parte do cenário lembrou o anterior.
Fazendo justiça, o novo apresentador, de cara, agradeceu ao antecessor, contratado para comandar um programa semelhante no SBT, "por ter obrigado a Band a acreditar em mim". Ainda no stand up de abertura fez piada com o próprio humor pesado, responsável pela sua saída do "CQC", em 2011, dizendo que vai apresentar o programa de terça a sexta, "até, claro, eu dizer outra bobagem".
O convidado da noite, nesta quarta-feira (05), foi o cantor Luan Santana, conhecido por raramente dizer algo original. Não foi obviamente uma boa escolha para uma entrevista, ainda que possa ter atraído uma audiência extra para a Band.
Gentil, Rafinha não fez nenhum questionamento mais difícil ao músico e chegou mesmo, em alguns momentos, a reverenciar o convidado. Foi uma atitude, digamos, adulta, que pode até ajudar outros convidados a aceitarem participar do programa, mas que não combinou nada com a situação e passou a imagem de um apresentador sem brilho.
Para piorar, a direção fez questão de dar closes em meninas da plateia que choravam por causa de Luan Santana – uma decisão de caráter apelativo, destinada a endeusar o jovem convidado.
Pode ter sido a vontade de ir ao ar mesmo sem estar pronto, pode ter sido a falta de um convidado com histórias para contar, o fato é que o novo "Agora É Tarde" deixou muito a desejar. Parece claro que ainda há muito a ser feito por Rafinha Bastos e sua equipe.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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