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Em livro, ex-diretor culpa a internet pelo fim da MTV Brasil

Mauricio Stycer

22/03/2014 16h38

zicogoesdivulgacaoNo recém-lançado "MTV, Bota Essa P#@% Pra Funcionar!" (Panda Books, 160 págs., R$ 35,90), Zico Goes se propõe a fazer um relato pessoal de sua longa experiência na emissora, contando casos saborosos que testemunhou ao longo de 20 anos, mas também buscando explicar o que deu errado.

Goes trabalhou na MTV entre 1991 e 2008. Voltou em 2011 e ficou até o fim, em setembro de 2013. Diretor de programação por muitos anos, é uma figura altamente credenciada para as duas tarefas.

A tese principal, mencionada uma dezena de vezes ao longo do livro, é que a MTV fracassou por culpa da internet. "A grande vilã", como chama Goes, teria sido responsável pelo decadência do principal produto da emissora, os videoclipes, pela derrocada das gravadoras, levando-as a perder o interesse em levar artistas para gravar o formato "Acústico", e ainda pela queda nas receitas com publicidade.

zicogoescapaGoes lembra que a MTV americana também enfrentou dificuldades por causa da disseminação do uso da internet, mas conseguiu se reinventar. Mas não sabe dizer por que a MTV brasileira não fez o mesmo.

Além de culpar a internet, o autor enxerga um erro importante na estratégia de programação da MTV, ocorrido justamente no período posterior à sua saída, em 2008. Naquele ano, a Abril comprou a última parte da emissora ainda em mãos da Viacom, americana, e se tornou a única dona do canal.

Segundo Goes, o presidente da empresa cobrou: "Vocês tem a obrigação de manter o nível e entregar números para a Abril." Para piorar, diz, "isso acabou coincidindo com uma mudança errada na programação a partir de 2009, momento em que a MTV decidiu ser mais generalista e menos cool." Nesta época, conta, o canal ficou adolescente demais. Só dava Restart. "A MTV se rendeu a essa tentação comercial".

Se as explicações são frágeis, o mesmo não se pode dizer das histórias de bastidores que Goes conta. "MTV, Bota Essa P#@% Pra Funcionar!" é repleto de causos divertidos, a começar pelo protagonizado por Caetano Veloso, cuja reclamação, ao vivo, serve de título ao livro.

Goes expõe abertamente a hipocrisia por trás da campanha "Desligue a TV e vá ler um livro" ao revelar que a peça era apresentada em horários que não atrapalhassem a programação. Também conta que, apesar de recusar "jabás", a MTV aceitava que as gravadoras ditassem as cartas no programa "Disk MTV", "exibido pelo canal por meio de um acordo de interesse mútuo".

O livro também conta boas histórias sobre como era feita a seleção de VJs – a preferência era por jovens e despreparados, que chegassem sem vícios. Ao falar dos principais nomes ds MTV, é curioso notar que Fernanda Lima merece bem mais espaço do que Thunderbird, Gastão e Fabio Massari, por exemplo.

"MTV, Bota Essa P#@% Pra Funcionar", em resumo, conta boas histórias sobre um canal que marcou uma geração de jovens brasileiros, mas não ajuda muito a entender o que deu errado.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.