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Livro faz relato minucioso sobre a seleção brasileira na Copa de 1994

Mauricio Stycer

04/05/2014 06h01


A primeira Copa do Mundo em que trabalhei foi a de 1994. Enviado pela "Folha", acompanhei a seleção brasileira por 40 dias nos Estados Unidos. Foi uma época em que, apesar dos atritos com a imprensa, os jogadores e toda a comissão técnica eram muito acessíveis.

São inúmeras as histórias que os jornalistas que seguiram Romário, Parreira e sua turma têm para contar dos bastidores desta cobertura que, ao final, se revelou histórica. O título encerrou um jejum de 24 anos.

Sempre pensei em escrever um livro a respeito, mas o projeto segue na gaveta. Também não conheço nenhum relato mais profundo feito por algum brasileiro que tenha participado da Copa de 94.

livroetetracapaEsta lacuna acaba de ser preenchida por "É Tetra – A conquista que ajudou a mudar o Brasil", de André Rocha e Michel Costa (Via Escrita, 182 págs., R$ 35). Os autores não estiveram na Copa, mas propõem uma análise muito rica sobre o que aconteceu nos Estados Unidos.

A dupla analisa, especialmente, o desenvolvimento tático da seleção brasileira a partir de 1990, quando foi eliminada pela Argentina na Copa da Itália, até a final contra a Itália, no estádio Rose Bowl, em Pasadena, em 17 de julho de 1994.

É um livro de dois apaixonados por futebol, esquemas e variações táticas. É muito interessante ver como Parreira levou tempo até achar a formação ideal, testando jogadores e modificando a forma de jogar da seleção em amistosos e torneios internacionais.

Rocha e Costa pontuam a narrativa com alguns dos fatos extra-campo que marcaram o período, em especial, a relação conflituosa da comissão técnica com Romário. Mas a prioridade é o desenvolvimento do futebol jogado em campo.

Das cinco conquistas do Brasil, a de 94 é uma espécie de patinho feio, pelo fato de a seleção não ter jogado o futebol vistoso que sempre se espera dela. O pragmatismo de Parreira, sublinham os autores, tem um peso fundamental nesta história, ao lado da liderança de Dunga e dos gols de Romário. De qualquer forma, Rocha e Costa entendem que esta seleção deixou um legado, ao ajudar a tirar um peso (os 24 anos sem título) e abrir caminho para as gerações seguintes – em especial, a que conquistou o penta, em 2002.

"É Tetra" é um registro minucioso sobre o que aconteceu nos campos dos Estados Unidos, ainda que não cubra todos os aspectos da Copa de 94. Para quem se interessa pela história do futebol, é um livro importante. Recomendo.

Leia também: Livro sobre o tetra cita arrependimento de Raí e piada de Bussunda com meia (inclui trechos selecionados do livro com comentários dos autores).

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.