Irritação do público com Luiza é ponto a favor de “Em Família”
Mauricio Stycer
21/05/2014 09h15
Em uma história com tantos problemas quanto "Em Família", a irritação do público justamente com mocinha que está protagonizando a história não deixa de ser uma boa notícia para a Globo. Luiza (Bruna Marquezine) tirou a novela da situação de indiferença.
A prometida primeira cena de amor com Laerte (Gabriel Braga Nunes), exibida na noite de terça-feira (20), coroou o percurso da personagem, ensaiado desde o início da trama. Luiza fez sexo com o homem que foi o amor da juventude de sua mãe, Helena (Julia Lemmertz), e tentou assassinar seu pai, Virgílio (Humberto Martins).
A situação proposta até agora por Manoel Carlos é chocante, mas não deixa de encontrar justificativa em um tipo de narrativa como o folhetim. Como mostrou o prólogo, Luiza não é apenas idêntica fisicamente, mas reproduz o jeito de ser da mãe quando jovem. Rebelde, independente e sedutora, se interessou mais por Laerte à medida que entendeu que deveria se afastar dele.
Os diálogos do autor já foram melhores, mas ele ainda tem o cuidado de mostrar como é estranha a relação de Luiza e Laerte por meio das conversas e da falta de jeito entre eles. Parece difícil acreditar que estão apaixonados, e isso torna a relação ainda mais enigmática.
Enquanto o flautista, meloso, fala um clichê atrás do outro, a jovem parece mais velha e fria, se saindo com tiradas inteligentes. "Eu não acredito que a gente teve que vir pra cá pra ter paz", disse ela depois de ver toda a cena armada na pousada. "Quem manda a gente ser um casal perturbador, arrebatador?", respondeu ele. "Que metido, você", completou ela.
Sem demonstrar emoção, Laerte falou lugares comuns ainda piores: "Eu mandei o tempo parar pra nós dois porque eu te amo". De roupão branco, segurando um vaso de flores numa mão, acordou a amada de manhã, e depois ainda a levou para um passeio de bote na lagoa.
"Em Família" tem se mostrado uma novela chata, com poucas boas histórias, muitos personagens desinteressantes, ritmo sonolento e direção nada criativa. O mau resultado no Ibope é consequência desta dificuldade para surpreender ou seduzir o espectador.
Um sinal evidente de como Manoel Carlos está tentando acordar o público desesperadamente foi visto nesta segunda-feira. Quase em sequência, além das cenas de amor entre os protagonistas, repartidas ao longo de todo o capítulo, a novela mostrou ainda outros dois casais em situações sensuais.
Primeiro, Selma (Ana Beatriz Nogueira) flagrou o neto (Ronny Kriwat) e sua namorada Paulinha (Manu Gavassi) na cama. E depois André (Bruno Gissoni convidou Bárbara (Polliana Aleixo) a entrar nua na piscina.
Em meio a tudo isso, Luiza se sobressai, seja em seu estranho caso de amor com Laerte, seja em sua relação com a mãe ou com os amigos. O público parece estar amando odiar a personagem de Bruna Marquezine.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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