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Maria Adelaide Amaral explica por que o seriado “Mad Men” é “brilhante”

Mauricio Stycer

26/05/2014 11h43


A HBO Brasil exibe nesta segunda-feira (26), às 21h, o sétimo episódio da última temporada de "Mad Men", intitulado "Waterloo". Depois deste, ainda faltam sete episódios para o fim definitivo da série, mas eles só serão exibidos em 2015.

A divisão da última temporada em duas partes repete a estratégia adotada com "Breaking Bad" pelo canal AMC, que exibiu nos EUA tanto a saga de Walter White quanto a de Don Draper. No Brasil, além do canal pago HBO, o programa é exibido na TV aberta pela TV Cultura.

mariaadelaideamaralCriada por Matthew Weiner, "Mad Men" é uma das séries mais sofisticadas já exibidas na televisão. Entre os muitos fãs da história, a dramaturga e autora de novelas e seriados de TV Maria Adelaide Amaral deu uma pequena entrevista ao blog, explicando por que considera o programa "brilhante".

Na conversa, a autora das novelas "Sangue Bom" e "Ti-Ti-Ti" e de séries como "JK", "Dercy de Verdade", "Queridos Amigos", "A Casa das Sete Mulheres" e "Os Maias", entre outras, afirma que os autores brasileiros não têm a mesma "liberdade de expressão" que os americanos. E também reclama da "patrulha moral" exercida por grupos de pressão. "Saíram as senhoras de Santana, entraram outros censores. Muito mais ferozes", diz ela..

Soube que você é fã de "Mad Men". Quais são as qualidades desta série?
Maria Adelaide Amaral – A total ausência de maniqueísmo, começando pelo caráter e trajetória de Don Draper, o protagonista. Ele é um talento publicitário, que se apossou do nome e da história de outro, portanto uma fraude. Inteligente, sagaz, sexy, adúltero contumaz, desleal, desprovido de escrúpulos e compaixão, apesar de tudo, passamos sete temporadas torcendo por ele. Isso acontece por que a construção das personagens é sólida, crível e consistente. Essas mesmas qualidades também estão presentes em a "Família Soprano" e "Breaking Bad", mas o que mais me fascina em "Mad Men" é o tempo. O compromisso não é com a velocidade da narrativa. O ritmo é lento e a ação é psicológica. Os diálogos são sintéticos, o subtexto revela-se em cada fala e na expressão contida dos personagens. Quase nunca gostamos, mas conhecemos essas pessoas. E, a contra gosto, nos apiedamos delas. Mérito do roteiro. Texto brilhante. Bons atores. Competente direção. E, como pano de fundo, a moda e as modas, a grande revolução dos costumes que assinalaram os anos 60. As canções que encerram cada episódio falam também sobre isso e constituem um dos grandes achados da série.

Você assiste a outras séries? Quais?
Comecei a assistir séries americanas nos anos 50 ("Papai Sabe Tudo", "I Love Lucy"), prossegui nos anos 60 ("A Feiticeira", "O Fugitivo", "Combate", "Rota 66", "Além da Imaginação", "77 Sunset Street", "Perry Mason"). Nos anos 70, não perdia "Mash", gostava muito de "Columbo" e de vez em quando assistia "Missão Impossível" e "São Francisco Urgente". Nos anos 80, "Miami Vice", "Casal 20", "A Gata e o Rato". Nos anos 90, "Twin Peaks", "Arquivo X", "Seinfeld", "Friends". E na década seguinte gostava muito de "Sexy and the City", assistia de vez em quando "Law & Order", "CSI", quase sempre "House" e "Família Soprano", de vez em quando "Sete Palmos". Mas a que nunca perdia era (aliás ainda é) "Mad Men". Achei interessante "Homeland", mas acabei me cansando na segunda temporada. Felizmente isso não aconteceu com "Breaking Bad" e "House of Cards".

Você concorda que os seriados brasileiros ainda estão atrás na comparação com as boas séries americanas? O que falta?
Acima de tudo, falta a experiência no formato. Mas gostei muito de "Malu Mulher" e, mais recentemente, de "Cidade dos Homens". "O Bem Amado" é um exemplo de seriado cômico brasileiro bem-sucedido, pois além do texto ser muito bom e o herói sem nenhuma qualidade, era verossímil e sem medo de ser politicamente incorreto. Na linha cômica, "A Grande Família", também merece destaque e, sem dúvida, "Os Normais". Também falta aos roteiristas brasileiros a liberdade de expressão que os norte-americanos desfrutam. A experiência de "Os Aspones" é um bom exemplo da patrulha corporativa. Algumas categorias profissionais se sentiram atingidas e fizeram um tipo de pressão que já é comum nas telenovelas. Ou seja, todos os médicos são impecáveis, o corpo de enfermagem perfeito e dedicado, os funcionários públicos trabalhadores ilibados, etc, etc. Sem falar na patrulha moral. Saíram as senhoras de Santana, entraram outros censores. Muito mais ferozes.

Seu próximo projeto seria uma série sobre Mauricio de Nassau, mas o projeto foi revisto e será transformado em filme. É isso?
Ainda não sei se "Nassau" será um filme, série ou minissérie. Talvez no segundo semestre a Rede Globo sinalize a respeito.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.