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À luz do dia, festa de abertura repete clichês e tem pouco impacto visual

Mauricio Stycer

12/06/2014 21h27

Destinada a fazer uma homenagem aos "tesouros do Brasil", a cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2014, que custou R$ 18 milhões ao Comitê Organizador Local, não conseguiu muito fugir do óbvio. Criação da belga Daphne Cornez, a festa foi um desfile de ícones nativos, da natureza e da cultura, certamente com o objetivo de seduzir a audiência estrangeira.

A cerimônia começou pontualmente às 15h15 (horário de Brasília). À luz do dia, muito do impacto visual pretendido se perdeu. Também chamou a atenção os muitos vazios no palco armado sobre o gramado do Itaquerão.

A apresentação do tema da Copa, "We Are One", por Claudia Leitte, Jennifer Lopez e Pitbull, mexeu com o público presente no estádio, mas o som pareceu abafado para quem estava assistindo pela televisão.

A transmissão da Globo lembrou desfile de escola de samba no Carnaval. Galvão Bueno esmerou-se na descrição didática dos acontecimentos, em tom escolar: "Musica, dança e apresentação da natureza, na concepção de uma artista belga", disse. Ao seu lado, Patricia Poeta seguiu na mesma toada. "Mostrando a diversidade também da natureza".

Um dos momentos mais esperados, o "chute inicial" dado por um garoto paraplégico, com a ajuda de um exoesqueleto (uma estrutura metálica que dá sustentação e reage a comandos do cérebro, como andar e chutar) foi praticamente ignorado na transmissão da Globo.

Uma hora depois de encerrada a cerimônia, Galvão Bueno reconheceu que a cena passou sem o destaque merecido e exibiu o momento em detalhes, explicando o trabalho do neurocientista Miguel Nicolelis.

Cerimônias de abertura de Copa do Mundo, a rigor, são sempre parecidas. Não servem para muita coisa além de um "aquecimento" para o jogo de abertura. A festa brasileira não comprometeu, mas também não será lembrada por nada especial.

Até por isso pode ser explicada, no balanço geral, a recepção relativamente fria do público no Itaquerão à proposta de Cornez.

Alguns elementos cativaram o público, como as camas elásticas em formato vitória-régia sobre as quais crianças fantasiadas de flores saltavam. O uso de fantasias de árvores caminhantes lembrando as criaturas da trilogia de "O Senhor dos Anéis" também se destacou.

Um problema foi a arquitetura do estádio, cujos espaços vazados dispersavam o som e tornavam um pouco difícil. Mas ao final do evento, a saudação ruidosa da plateia foi um sinal de aprovação. E houve até abraço da diva Lopez com Claudia Leitte, o que no casa da temperamental cantora americana é uma demonstração e tanto de afeto.

Depois dos aplausos, a plateia voltou a se unir, mas só que para soltar palavrões contra a presidente Dilma Rousseff, à Fifa e ao seu padrão de qualidade.

Este texto, feito em parceria com o colega Fernando Duarte, foi publicado originalmente no UOL Esporte.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.