Sombra de Fátima Bernardes “boleira” atrapalha Patricia Poeta
Mauricio Stycer
28/06/2014 10h07
Bem na noite de sua estreia como âncora itinerante do "Jornal Nacional" na Copa do Mundo, Patricia Poeta foi flagrada bufando. O momento mereceu, dois dias depois, uma explicação – a apresentadora estava fazendo um exercício para a voz, sugerido por sua fonoaudióloga.
Achei a explicação bem convincente, mas não adiantou. A força da imagem é maior que a possível verdade. Patricia Poeta parece entediada no papel que foi incumbida de fazer. Ancorar o "JN" em pé, sendo obrigada a sorrir para Galvão Bueno ao seu lado, não deve ser tarefa fácil.
A situação em que surge diariamente na tela soa muito artificial. Patricia Poeta saiu do estúdio, mas o estúdio parece continuar a enquadrando. O seu jogral diário com Galvão, os sorrisos, a troca de olhares, o teatro todo dos dois lembra muito o que ela faz na bancada do telejornal, ao lado de Bonner.
Para piorar, existe a sombra de Fátima Bernardes. Sua antecessora foi repórter na Copa de 94 e desempenhou o papel que Patricia cumpre agora em três outros Mundiais, entre 2002 e 2010. Neste último, sofreu nas mãos do técnico Dunga, a quem se credita a deselegância de deixá-la ao relento esperando por uma entrevista.
Mas na conquista do penta e na Copa seguinte, eventos em que a Globo teve acesso total e privilegiado à seleção brasileira, Fátima nadou de braçada. No dia em que Cafu levantou a taça em Yokohoma, a apresentadora saiu do estádio no ônibus da seleção.
O zagueiro Lucio, com a taça na mão, diz para ela: "Vamos entregar aqui para a musa da seleção brasileira". Segurando o troféu, e rindo solto, Fátima responde: "Gente, é pesada demais… Linda!!! Adorei!" E, na sequência, devolve a taça a Cafu, que aplaudia a cena.
Naquela Copa, Fátima conta que, em seu primeiro dia, ancorou o "JN" de dentro de um estúdio, mas no dia seguinte abandonou o local e passou a aparecer o mais próximo possível da seleção brasileira, em saguões de hotéis, aeroportos etc. Dai surgiu o bordão de William Bonner: "Onde está você, Fátima Bernardes?"
Além das facilidades concedidas pela CBF à Globo, Fátima sempre se valeu da própria simpatia, da curiosidade de repórter e de algo essencial nestas situações: medo nenhum do ridículo.
Patricia Poeta se ressente disso tudo. Ainda que a Globo tenha restabelecido a proximidade com a seleção, perdida na Era Dunga, o contato não é mais tão intenso (em 2002, por exemplo, Fátima entrevistou Ronaldo dentro de um quarto de hotel do jogador).
Além disso, a nova apresentadora parece menos disposta a se envolver em situações constrangedoras e, também, não demonstra intimidade com o tema do futebol, como a sua antecessora.
Por tudo isso, a imagem de Patricia Poeta bocejando é tão forte e, salvo algum acidente, vai ficar como marca desta cobertura.
Este texto foi publicado originalmente no blog UOL Esporte Vê TV.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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