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É proibido torcer para a Argentina?

Mauricio Stycer

12/07/2014 09h34

A rivalidade entre brasileiros e argentinos por causa do futebol é um fato, mas por alguma razão ela vem sendo exagerada na televisão. Abaixo, um texto que escrevi sobre o assunto, publicado originalmente no blog UOL Esporte Vê TV:

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"Jornal Nacional" corta elogios de Neymar a Messi

Um dos momentos mais inesperados da entrevista de Neymar na tarde de quinta-feira (10) na Granja Comary foi a resposta sobre para qual seleção torceria na final da Copa do Mundo. O jogador driblou com inteligência a rivalidade de brasileiros com argentinos e, elogiando Messi, deu uma contundente declaração de apoio aos "hermanos". Veja:

"Se você parar para pensar: um brasileiro torcendo pela Argentina? Não, não tô torcendo pela Argentina. Tô torcendo para dois companheiros… Uma pessoa que eu passei a admirar ainda mais por estar ao lado dele todos dias. É um jogador que eu tinha como espelho, um ídolo, admirava de longe, por suas qualidades dentro de campo. E ali (no Barcelona) eu passei a admirá-lo como pessoa, como jogador, e ver que nos treinos ele é tão ou mais especial do que nos jogos. É por isso que minha torcida é sempre pro Messi. Eu sou Messi Futebol Clube. Eu torço por ele. Pela história que ele e o Mascherano têm no futebol, eles merecem."

O "Jornal Nacional" editou radicalmente esta resposta à noite. O repórter Tino Marcos falou: "Sobre a final de domingo, (Neymar) não disse que vai torcer pela Argentina, mas pelos companheiros de Barcelona, Messi e Mascherano". Em seguida, a fala de Neymar foi reduzida a uma linha: "Um brasileiro torcendo pela Argentina? Não, não tô torcendo pela Argentina. Tô torcendo pra dois companheiros."

Por que este corte? Só vejo uma razão. A fala tão simpática de Neymar em defesa de Messi destoa radicalmente da postura que o próprio "Jornal Nacional" adotou um dia antes.

Na quarta-feira (09), a notícia da vitória da Argentina sobre a Holanda foi tratada pelo telejornal como um fato doloroso. A primeira frase do JN, lida por Patricia Poeta, foi: "A dor da nossa derrota é agravada por nossos rivais". Em seguida, comentando a volta da apresentadora à bancada, William Bonner disse: "É a única noticia boa trazida pela Copa do Mundo nas últimas 24 horas".

A insistência em lamentar a classificação da Argentina para a final prosseguiu quando Cleber Machado quis saber de Bonner se ele considerava a derrota da Holanda uma má notícia: "E já que você perguntou, Cleber, não, eu não gostei da vitória da Argentina", disse o apresentador.

"Mas eu gosto muito da Argentina, gosto do povo, é um povo alegre, são nossos vizinhos… Eu só não consigo torcer muito pra Argentina no futebol", acrescentou Bonner. "É compreensível", disse Patricia Poeta.

Bonner, então, pela quarta vez retomou o tema: "E você, Mauro Naves, gostou do resultado da Argentina?". Ao que o repórter, em Teresópolis, respondeu: "Não, não gostei. E por aqui também gostaram pouco."

Em resumo, Bonner e equipe podem torcer contra a Argentina. Mas os elogios de Neymar a Messi não têm espaço no telejornal.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.