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“Pânico” vai de grosseria gratuita com atriz a entrevista genial com músico

Mauricio Stycer

18/08/2014 01h44

É natural que um programa de humor com duração de três horas seja irregular, alternando momentos engraçados com outros sem graça. O problema do "Pânico", nos últimos tempos, é convencer o público que vale a pena esperar pelas melhores atrações, normalmente deixadas para o final.

Levantamento do site Noticias da TV mostrou que o programa perdeu quase metade do seu público em cinco anos.

A edição deste domingo (17) deu uma boa ideia da situação. Em um mesmo programa, o "Pânico" alternou momentos geniais com outros de puro constrangimento e falta de imaginação.

O ápice ocorreu no final, quando Daniel Zukerman encontrou um entrevistado disposto a falar em seu "Talk Show nas Alturas" – o rapper Mano Brown. O líder dos Racionais estava de ótimo humor e, em alguns momentos, trocou o semblante carrancudo de sempre por surpreendentes sorrisos abertos (a entrevista pode ser vista abaixo).

O repórter do "Pânico" quebrou o gelo ainda no aeroporto, quando disse a Brown que também era "das quebradas". "De qual?", quis saber o músico. "De Higienópolis", brincou Zukerman, citando um bairro de classe alta de São Paulo.

A entrevista a bordo do avião foi excelente. Falaram de música, política, racismo e televisão, entre outros assuntos. Zukerman parecia preparado e Brown se mostrou atencioso e interessado nos temas propostos. Para quem raramente dá entrevista, como é o caso do músico, foi um momento realmente especial.

Há duas semanas, o mesmo Zukerman havia forçado Luiz Felipe Scolari a dar uma entrevista a bordo de um avião. Não conseguiu, mas a cena foi exibida orgulhosamente pelo programa, expondo todo o constrangimento do técnico.

Esse prazer em deixar figuras públicas em situação desagradável é uma marca do "Pânico", mas hoje isso é feito sem critério algum e, pelo que mostra o Ibope, já não causa o efeito esperado.

Veja, por exemplo, um dos quadros do programa deste domingo. A pauta de Amanda Ramalho e Nicole Bahls era "As roupas íntimas dos famosos". Com o objetivo de descobrir esse segredo essencial, as duas saíram perguntando a cor da cueca ou da calcinha de seus entrevistados. Conseguiram uma ou outra resposta engraçada, mas na maioria dos casos provocaram apenas sorrisos amarelos.

A cereja no bolo foi a abordagem feita com a atriz Laura Cardoso, de 86 anos. Ela não viu graça alguma na pergunta e virou a cara para a dupla. Em vez de descartar a cena na edição final, ocorreu o contrário: a "entrevista" teve o maior destaque na matéria. Não consigo acreditar que alguém se divertiu vendo isso.

Abaixo, a entrevista de Zukerman com Mano Brown:

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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