Fama iludiu celebridades que disputaram eleição, mas não os eleitores
Mauricio Stycer
06/10/2014 11h48
O eleitor brasileiro já fez muitas escolhas discutíveis nas urnas, mas alguns resultados apurados em 2014 mostram que ele não é tão bobo quanto alguns pensam. O fracasso retumbante da candidatura de várias celebridades mostra que são elas, e não os eleitores, que se iludiram com a fama conquistada.
Cinco vencedores do "Big Brother Brasil" disputaram a eleição. Apostando exclusivamente na fama alcançada no reality show da Globo, quatro deles saíram desapontados com a resposta do eleitor. Cida Santos (BBB4) teve 167 votos; Diego Alemão (BBB7) conseguiu 4.497; Maria Melilo (BBB11) recebeu 3.199; e Fael (BBB12), o menos pior, ficou com 13.726. Nenhum se elegeu.
Kleber Bambam (BBB1) chegou a se candidatar, mas desistiu no meio do caminho. Outro ex-BBB, Daniel, teve 1.856 votos em sua tentativa.
Também são eloqüentes os resultados de outros famosos. O ator Ricardo Macchi, por exemplo, sempre reclamou de ser lembrado por sua péssima atuação como o cigano Igor na novela "Explode Coração", mas recorreu justamente ao personagem para tentar uma vaga de deputado estadual no Rio Grande do Sul. Teve 2.652 votos.
O ator pornô Kid Bengala talvez tenha acreditado que participar seguidamente de talk shows e programas de humor na TV brasileira fosse um sinal de sucesso. Não é. É apenas uma piada. Teve 1.095 votos em São Paulo.
Outro que talvez tenha entendido de forma equivocada a exposição que recebeu na TV foi Marcos Oliver. Famoso por sua participação do "Teste de Fidelidade", de João Kleber, andava esquecido quando mereceu uma "segunda chance" ao integrar o reality "A Fazenda", em 2013. Candidato a deputado federal em São Paulo, teve 1.517 votos.
Já a Mulher Pêra, depois de conseguir 2.126 votos como candidata a vereadora, em 2012, numa campanha que ficou famosa pela imagem de seu número escrito na bunda, optou por uma campanha mais recatada a deputada federal, em 2014. Resultado: 1.272 votos.
Haveria vários outros exemplos a dar. Mas estes são suficientes para lembrar que a fama não é um valor em si, ao menos na política. Há vários outros elementos em jogo na hora de escolher um deputado.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.