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Em debate engessado e sem jornalistas, é exagero ter dois apresentadores

Mauricio Stycer

20/10/2014 00h09


Em matéria de ataques pessoais, o terceiro debate entre Dilma Rousseff e Aécio Neves foi bem mais ameno do que os dois primeiros. Mas mostrou, novamente, que as rígidas regras impostas pelas assessorias dos candidatos impedem que ocorra, de fato, uma discussão de ideias.

Sem perguntas de jornalistas, diferentemente do que ocorreu no debate da Record do primeiro turno, os candidatos se sentem à vontade para repetir questões já feitas antes em outros encontros. Aproveitam para levantar assuntos com o objetivo não de ouvir o que o outro tem a dizer, mas sim o de discursar sobre temas de seu próprio interesse.

Uma pergunta de Dilma sobre o Enem ganha uma resposta de Aécio sobre creches. E por aí vai, de parte a parte, esse diálogo de surdos – pelo menos, desta vez, sem maiores ofensas.

Aos mediadores, não resta muita coisa a fazer. "Tempo esgotado, candidata", diz Celso Freitas. "É a sua vez de perguntar, candidato", avisa Adriana Araujo. Por 105 minutos, tempo de duração do debate, essas foram as principais intervenções dos dois apresentadores da emissora.

Outra função que coube a Freitas e Adriana foi pedir para a claque dos dois partidos não se manifestar, no que não foram respeitados. Ou seja, a emissora não precisava escalar dois mediadores para isso. Um era mais do que suficiente.

Como já havia ocorrido no debate do primeiro turno, a Record teve dificuldades para acertar a luz no estúdio sobre os candidatos. O espectador viu inúmeras oscilações ao longo do primeiro bloco.

Diferentemente do que ocorreu no final do debate no SBT, quando os candidatos foram entrevistados pela emissora, na Record os apresentadores é que deram entrevista.

Segundo dados prévios do Ibope, o encontro rendeu média de 12 pontos à Record, com 14,6 de pico. Uma boa audiência. A emissora ficou 13 minutos na liderança.

Em tempo: Como este blog trata de televisão, e não de política, só publicarei comentários que digam respeito ao tema do meu texto. Declarações de votos e ofensas a um ou outro candidato não serão aceitos.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.