Por que “Geração Brasil” sofreu para capturar a atenção do espectador
Mauricio Stycer
30/10/2014 15h34
Estava de férias quando "Geração Brasil" estreou, em maio. Perdi as duas primeiras semanas da novela. Por algum tempo, culpei esse lapso inicial pela dificuldade que tive em embarcar na história. Hoje entendo que o problema foi outro.
"Geração Brasil" foi uma novela difícil. Mais do que atenção, ela exigia cumplicidade do espectador. O texto de Izabel de Oliveira e Filipe Miguez, os mesmos da divertidíssima "Cheias de Charme", abordou como tema principal o universo da tecnologia, dos nerds – um assunto, hoje, ainda longe de ter sido assimilado por todas as faixas de público.
Em torno disso, a novela apostou em um humor até certo ponto sofisticado, com referências ao universo pop, igualmente distantes do senso comum. O texto flertou com ficção científica, história em quadrinhos, desenho animado, seriados americanos, muita metalinguagem (veja o álbum de fotos no fim do texto), além de personagens muito pouco convencionais.
"Geração Brasil" ainda ousou ao promover um reality show dentro da novela – como se os muitos programas do gênero na grade da própria Globo e de suas concorrentes já não fossem suficientes. Jonas Marra, um Steve Jobs tropical, queria encontrar um herdeiro por meio do jogo na TV, mas só arrumou confusão.
Acho louvável que, apesar da pouca repercussão, e de uma audiência medíocre, "Geração Brasil", cujo último capítulo será exibido nesta sexta-feira (31), foi coerente do início ao fim. Nenhuma grande mudança de rumo ocorreu na tentativa de "salvar" a novela.
Desconfio que, no futuro, talvez, a história de Izabel de Oliveira e Filipe Miguez venha a ser mais bem compreendida. O fato é que a novela, apesar de todas suas extravagâncias, não capturou a atenção nem provocou reações dos espectadores.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.