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Para ser um “produto de verão”, “Alto Astral” trata espiritismo com humor

Mauricio Stycer

11/11/2014 13h30


Explicando como enxerga "Alto Astral", Jorge Fernando me pareceu muito sincero e prático ao dizer: "Quero fazer um produto de verão para quem gosta de novela."

Para entender o diretor, convém lembrar que a nova atração das 19h30 da Globo sucede "Além do Horizonte" e "Geração Brasil", duas novelas relativamente ambiciosas, mal compreendidas pelo público.

A aposta da Globo em uma história bem mais simples para o horário poderia esbarrar em um problema, porém. A sinopse de "Alto Astral", de autoria de Andrea Matarolli, previa uma trama de conteúdo espírita.

Novelas com este tema, como se sabe, formam uma espécie de subgênero na teledramaturgia brasileira (um Top 5, elencado pelo pesquisador Nilson Xavier, pode ser lido aqui)

Como fazer um "produto de verão" de temática espírita? Exibidos os primeiros sete capítulos de "Alto Astral", a resposta a este desafio parece clara. A solução foi dar aparência de comédia ao aspecto religioso da história.

altoastralcaiquecastilhoSalta aos olhos a preocupação em evitar o proselitismo religioso, uma marca da última novela com esta temática, "Amor Eterno Amor", de Elizabeth Jhin, exibida em 2012, na faixa das 18h. Não apenas Jorge Fernando, como também Daniel Ortiz, autor da novela, e Silvio de Abreu, supervisor do texto, repetiram esta mesma ideia em diferentes entrevistas.

"A novela tem esse tom de comédia, pelas situações criadas por esses espíritos, mas estou fazendo da forma mais cuidadosa possível, sem entrar em nenhuma doutrina religiosa", disse o diretor.

"A sinopse da Andrea foi uma inspiração, mas desenvolvi a história para além dessa temática que, mesmo na versão dela, não era doutrinária", explicou o autor. "A ideia era muito interessante, já que brincava com o sobrenatural de uma maneira muito original, sem ter esse apelo doutrinário", defendeu o supervisor.

altoastralbelacaiqueDois são os espíritos que, diariamente, contracenam com o herói da história, o médico Caíque (Sérgio Guizé). Um é uma criança, Bella (Nathalia Costa), que faz o possível para ajudá-lo, mas frequentemente o coloca em situações atrapalhadas. O outro é Castilho (Marcelo Médici), cirurgião que já "entrou no corpo" de Caíque e operou Laura (Nathalia Dill) com um canivete e linha de costura numa beira de estrada.

Segundo a sinopse, Castilho tem uma missão espiritual séria. Ele precisa que Caíque cumpra um pacto que os dois fizeram numa encarnação passada para prosseguir seu caminho espiritual. Ainda assim, suas aparições são quase sempre cômicas, em entradas e saídas de cena pelas paredes, que lembram desenho animado ou produções de Hollywood.

A história se propõe a mostrar as peripécias e agruras deste casal solar formado por Caíque e Laura diante de um vilão travestido de médico, Marcos (Thiago Lacerda), irmão do mocinho e ex-noivo da heroína.

altoastralsamanthaOutro ingrediente de humor é oferecido por Samantha (Claudia Raia), uma paranormal picareta, que luta para reencontrar os poderes do além, uma voz que a ajudava a fazer previsões, além de tentar namorar Caíque.

"Produto de verão", temperado por espiritismo, mas sem doutrinação. Eis, em resumo, o que se deve esperar de "Alto Astral". Em outras palavras, uma novela divertida, mas bobinha. Confesso que não me entusiasma muito, mas até o momento tem alcançado o seu objetivo. Como registrou Flavio Ricco em sua coluna, o público está gostando. E, afinal, é isso que importa.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.