Em novo cargo, Silvio de Abreu decreta o fim das inovações em novelas
Mauricio Stycer
19/11/2014 05h01
Em entrevista concedida um mês antes de ser formalmente anunciado como o diretor responsável por todas as novelas da Globo, Silvio de Abreu deixou claro que o tempo de inovações terminou. "Eu acho que novela tem que voltar a ser novela. Essa história de fazer novela para ficar parecida com seriado não dá certo", disse à edição digital da "Caras".
Segundo a nova estrutura da emissora anunciada esta semana, Abreu agora se reporta diretamente a Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Globo. É por ele que vão passar sinopses e projetos de novelas, bem como a decisão sobre quais faixas horárias vão ocupar.
"Novela é uma história folhetinesca com romance, com comédia, com drama, que a pessoa fique motivada a assistir todo dia e que tenha um gancho a cada comercial, e um gancho forte no final do capítulo", disse à repórter Flavia Faccini.
Em defesa desta visão conservadora, ele acrescenta: "O gênero é esse e é assim que tem que ser feito. Qualquer coisa que se fizer fora disso não dá certo. Então, se você não gosta de novela, vai fazer minissérie, seriado, vai fazer outra coisa, porque novela é assim."
A repórter lembrou a Abreu do insucesso de sua mais recente experiência como autor, ao reescrever "Guerra dos Sexos" (2012), um antigo sucesso de sua própria autoria. A resposta do diretor de Dramaturgia da Globo é surpreendente: ele se compara a William Shakespeare.
Em outra passagem da entrevista, Abreu reafirma uma boa notícia: a duração das novelas será mais flexível. "A gente já estabeleceu isso na Globo: cada novela vai ter a duração que a história permitir".
Segundo ele, está decretado o fim da "barriga", aquela embromação típica que ocorre no meio das histórias. "Nós vamos ter novelas de 100 capítulos e de 200, depende da história. O ruim é quando você não tem história para contar e fica enchendo linguiça, e quando eu supervisiono ou escrevo eu não faço isso. Isso é uma coisa que não quero que aconteça mais."
A entrevista pode ser lida aqui.
Correção (às 17h): Na versão original deste texto, escrevi que esta havia sido a primeira entrevista concedida por Silvio de Abreu depois de ser nomeado Diretor de Dramaturgia Diária da Globo. O site da "Caras" acaba de informar que, na verdade, a entrevista foi concedida no dia 18 de outubro, na festa de lançamento da novela "Alto Astral", mas só foi publicada um mês depois, no dia 18 de novembro. Abreu foi formalmente anunciado no novo cargo no dia 17 de novembro.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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