“Hora Um” aproxima jornalismo da Globo do rádio e da TV paga
Mauricio Stycer
01/12/2014 09h51
Em busca de uma audiência rotativa, volátil, o jornalismo feito para rádio adota sem pudor o princípio da repetição de noticias. O ouvinte que permanece sintonizado numa única estação por mais de 20, 30 minutos, acaba ouvindo as mesmas notícias em "looping".
Na TV paga, as emissoras "all news", dedicadas exclusivamente a notícias, também abusam do expediente – no caso, não somente em busca de audiência rotativa, mas também por falta de novidades ou recursos profissionais para alimentar as muitas horas ao vivo no ar.
A estreia do "Hora Um", na Globo, traz para a TV aberta este recurso. No ar das 5h às 6h da manhã, o novo jornalístico repetiu algumas noticias até três vezes, em intervalos de 15 minutos.
O recurso, anunciado com antecedência, também foi tratado com transparência ao vivo. De forma a alertar os espectadores que acompanharam o telejornal do início ao fim, Monalisa Perrone avisava antes de cada repetição: "Para você que está acordando, o 'Hora Um' já mostrou…".
Esta foi, talvez, a maior novidade do novo programa – além, claro, do seu horário. Trata-se de uma aposta ousada investir recursos, como fez a Globo, em um telejornal que vai ao ar às 5 da manhã, um período de baixa visibilidade e menor interesse comercial.
A estreia foi acompanhada de outra alteração importante na grade da emissora. Tanto o "Bom Dia" local quanto o "Bom Dia Brasil" tiveram suas durações estendidas, criando assim uma faixa de programas jornalísticos, ao vivo, das 5h às 9h.
É um esforço interessante. Mostra, por um lado, uma reação da Globo à concorrência e, por outro, uma aposta relevante no jornalismo.
A questão a verificar nos próximos meses é se há público interessado em consumir tanta notícia. Na estreia do "Hora Um", por falta de alguma notícia de grande interesse a exibir, a repetição a cada 15 minutos, para quem seguiu o programa inteiro, deu um ar enfadonho ao telejornal.
Atualizado às 13h: Dados preliminares do Ibope apontam que o novo telejornal registrou 3,7 pontos na Grande São Paulo, um aumento de 85% na audiência da Globo no horário. Leia mais aqui.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
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