“Sete Vidas” dá contribuição ousada no combate ao preconceito
Mauricio Stycer
15/04/2015 09h46
Enquanto "Babilônia" enfrenta rejeição do público, entre outros motivos, por apresentar um casal de mulheres idosas, vivido por Fernanda Montenegro (Teresa) e Nathalia Timberg (Estela), "Sete Vidas", a novela das 18h30, trata do mesmo tema com menos alarde e, aparentemente, sem provocar problemas com a sua audiência.
No capítulo desta terça-feira (14), Luis (Thiago Rodrigues) contrariou a mulher, Branca (Maria Manoella), e explicou aos filhos, em detalhes, que eles tiveram duas avós por parte de pai. "Eu tive duas mães", disse a Sofia (Milena Melo) e Luca (Gabriel Palhares).
Numa cena longa, de quase cinco minutos, o pai contou aos filhos sobre a relação da mãe, Esther (Regina Duarte), com Vivian, já morta. "A Esther e a Vivan eram casadas, tipo namoradas, duas mulheres que se amavam muito. A minha família era tão legal que eu nunca podia imaginar que família pudesse ser de outro jeito", disse.
Luis ainda revelou aos filhos que a mulher, Branca (Maria Manoella), contou uma mentira ao tratar do assunto com Sofia, inventando a história de um avô que eles nunca tiveram.
"É um pouco confuso, sim, porque não é assim que acontece na maioria dos casos. Tão confuso que a sua irmã, quando era bem pequenininha, perguntou para a mamãe quem era o avô dela e a sua mãe, com medo que a sua irmã não fosse entender, inventou um avô de mentirinha. Foi uma forma que a sua mãe encontrou para adiar o assunto da vovó Vivian, para vocês estarem grandes e entender tudo melhor, como estão agora."
Na sequência, "Sete Vidas" exibiu mais uma cena do conflito entre Luis e Branca por conta deste assunto. A mulher já havia se manifestado contra a decisão do marido de contar a verdade para as crianças. E eles voltaram a brigar quando ele disse, finalmente, que revelou tudo aos filhos.
A conversa prosseguiu: "Quando vocês casaram, teve festa?" "Festão. A gente se acabou de dançar." "E por que vocês se separaram?" "Porque um dia a gente percebeu que o namoro tinha acabado. E aí a gente resolveu fazer uma festa de separação. Para festejar o que a gente tinha vivido até ali e o que a gente ainda ia viver".
"Sete Vidas" é a segunda novela de Licia Manzo, autora também da ótima "A Vida da Gente", exibida igualmente no horário das 18h30, entre 2011 e 2012.
A nova trama gira, justamente, em torno de questões relacionadas a paternidade. Diferentes personagens, gerados por inseminação artificial, descobrem que são filhos de um mesmo doador anônimo, Miguel (Domingos Montagner), e suas vidas se cruzam. Luis é um desses filhos.
A novela estreou em março e, como "A Vida da Gente", chama a atenção pela qualidade dos diálogos, pela humanidade dos personagens (praticamente não há vilões na trama) e pela ambição de discutir seriamente temas universais. É um biscoito fino que merece ser acompanhado com atenção.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
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