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Edir Macedo diz que foi consultado sobre contratação de Xuxa e não se opôs

Mauricio Stycer

26/04/2015 23h34

edirmacedocabriniO SBT exibiu na noite deste domingo um "Conexão Repórter" especial, ao longo do qual Roberto Cabrini apresentou, por 90 minutos, uma longa entrevista com Edir Macedo, fundador da Igreja Universal e dono da concorrente Record.

Silvio Santos encerrou o seu programa mais cedo, fazendo elogios ao trabalho religioso de Macedo e classificou o programa como "uma homenagem" a ele, que "levou tanta gente que estava no mau caminho para o bom caminho".

A entrevista com o dono da Record, exibida no horário nobre do SBT, curiosamente, foi ao ar justamente no dia em que a Globo comemorava os seus 50 anos.

Cabrini fez questão de fazer uma advertência logo no início: "Tudo, ou quase, foi abordado", disse, deixando no ar uma dúvida importante. Segundo o colunista Ricardo Feltrin, do UOL, Silvio Santos não gostou de uma pergunta do repórter, sobre lavagem de dinheiro, e a eliminou da edição final do programa.

Segundo Cabrini, esta foi a primeira entrevista de Macedo a um jornalista que não trabalha para a Record. O repórter, de fato, fez inúmeras perguntas interessantes e provocadoras. Em suas respostas, porém, o bispo respondeu basicamente as mesmas coisas que já disse em seus livros de memórias ou de religião.

Educado, o repórter não interrompeu o entrevistado, mesmo quando ele discorreu além do necessário, evitando responder a algumas perguntas e fazendo propaganda da Igreja Universal.

Cabrini questionou Macedo sobre a sua prisão, acusado de charlatanismo, em 1992. Foi a oportunidade para o líder da Universal mais uma vez dizer que os culpados foram a Igreja Católica e a Rede Globo. "Acredito que eu seja o inimigo número um da Igreja Católica". Sobre as muitas acusações que recebe, fez piada: "A Igreja Universal é que nem omelete. Quanto mais se bate, mais ela cresce".

O repórter quis saber como o religioso lida com a acusação de que a sua igreja privilegia a arrecadação de dinheiro: "Só os estúpidos pensam em teologia da miséria", respondeu, defendendo a "teologia da prosperidade".

macedochutenasantaCabrini ouviu Macedo sobre o famoso episódio do "chute na santa", protagonizado por um pastor da Universal, em 1995: "Foi um chute no estômago, para não dizer num lugar mais baixo. Foi a pior coisa que aconteceu dentro do trabalho da Igreja Universal. Porque não é o nosso estilo agredir a religião dos outros. Se exigimos respeito à nossa crença, temos que respeitar as outras crenças."

Cabrini perdeu a oportunidade, neste momento, de questioná-lo sobre as muitas brigas com pastores de outras igrejas, bem como a hostilidade da Universal com religiões afro-brasileiras. O repórter também evitou perguntas sobre política, em especial sobre o PRB, partido comandado por um bispo licenciado da Universal, e a relação do seu entrevistado com o poder.

A conversa também abordou questões pessoais, como o bullying que sofreu na infância por ter nascido com uma deficiência nas mãos. "Fui todo mal fabricado. A gente sempre fica inferior aos perfeitos fisicamente". Contou que na escola era chamado de "Dedinho" por causa do problema.

Questionado pelo repórter, Macedo também falou de sua iniciação sexual, aos 16 anos, no Rio. "Foi num bordel, ali na zona", disse. "E nós fomos lá aprender o que era o sexo". Foi bom?, questionou o repórter. "Eu não transferiria essa experiência para os meus filhos. Naquela época, foi bom."

Muitas namoradas?, quis saber Cabrini. "Sim, tivemos muitos casos amorosos", disse rindo. "O defeito físico não impediu que a gente tivesse os nossos sucessos", disse, recorrendo ao plural majestático.

Outro tema inconveniente que mereceu questionamento foi o famoso vídeo, exibido até pela Globo, em 1992, no qual ensina como os pastores da Universal devem convencer os fieis a dar dinheiro para a igreja. "Ou dá ou desce", ensina Macedo, no vídeo.

"Não me arrependo", disse. "Eu falei aquilo que pensava e penso. E vou continuar pensando", disse. "Se você dá, você recebe. Se você não dá, você não recebe", acrescentou. "Sou uma máquina de ganhar almas", repetiu algumas vezes.

xuxarecordCabrini quis saber se Macedo interfere muito na gestão da Record e se foi consultado sobre a contratação de Xuxa: "A Record tem vida própria", disse. Em seguida, pensou um pouco antes de responder e disse: "Fui perguntado se havia alguma objeção (à contratação da Xuxa). Eu disse 'não'. Se é bom para a Record, é bom pra mim. Nossa filosofia é dar liberdade às pessoas em quem nós confiamos".

Também falou sobre a exibição, de madrugada, na Record, de programas da Igreja Universal. Justificou o horário assim: "Porque as pessoas não tem tempo, de dia, para ver as nossas prédicas. Você sabe que as pessoas que estão sofrendo, sofrem à noite, especialmente pela madrugada."

A compra da Record, ocorrida em 1989, depois de difícil negociação com a família Machado de Carvalho e Silvio Santos, serviu para Macedo fazer discurso. Primeiro disse: "Eu fui visado, muito visado. Logo eu, uma pessoa tão frágil. Por esse lado, a compra foi cruel".

Em seguida, observou, talvez sem se dar conta que estava fazendo uma crítica implícita ao SBT: "Depois da Record, o Brasil teve outro rumo. Até então tínhamos a Rede Globo como informação única neste país. Com a Record tivemos a oportunidade de deixar o povo brasileiro ciente do outro lado dos fatos. Isso fez o Brasil despertar. Hoje temos um Brasil democrático, eu diria, em grande parte por causa da Record."

Ao final, Cabrini perguntou como Macedo se comparava a Silvio Santos — "dois grandes comunicadores", segundo o repórter: "Não tenho o sorriso, a gargalhada, o jeito do Silvio Santos. Ele é um excelente comunicador", disse o bispo. "E eu tenho a minha fé. Só sei passar fé."

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.