Sete motivos por que vamos sentir saudades de “Sete Vidas”
Fato cada vez mais incomum hoje em dia, "Sete Vidas" vai terminar nesta sexta-feira (10) deixando um gostinho de "quero mais" na boca do público. Em meio a novelas que tem provocado indiferença ou rejeição, a trama de Licia Manzo agradou e cativou um público fiel do principio ao fim.
Abaixo tento explicar por que "Sete Vidas" é daquelas novelas que serão lembradas com saudade.
Humanismo: Licia Manzo se destaca hoje entre os autores de novelas pela forma como tem abordado, com delicadeza e profundidade, temas básicos sobre relações humanas. O título de sua primeira novela, "A Vida da Gente", serve muito bem para explicar o que "Sete Vidas" teve de melhor: contou histórias fundadas em dramas universais, que provocam identificação e reflexão de qualquer espectador. Ainda que ambientadas no campo da classe média, as dúvidas e fraquezas de seus personagens fazem sentido para qualquer pessoa.
"Podemos conversar?": Como já havia ocorrido na novela anterior da autora, "Sete Vidas" chama a atenção por ser estruturada basicamente em forma de debates – de ideias, sentimentos, posições. Como se os personagens estivessem o tempo todo em uma sessão de terapia, eles discutem entre si, a cada cena, os diferentes lados de cada questão. Longe de ser chata, esta "DR" interminável que foi a novela acaba se tornando atraente por conta da elevada qualidade do texto. Licia Manzo e seu time de colaboradores são especialistas em dar naturalidade e realidade aos diálogos.
Tema original: A novela se estruturou a partir da ideia de que o conceito de família hoje comporta novos e complexos significados. Gerados por inseminação artificial, diferentes personagens se descobriram irmãos ao longo da trama. "Sete Vidas" também mostrou, sem escandalizar, a relação de dois filhos criados por uma mãe que foi casada com outra mulher. Houve, ainda, espaço para falar de mulheres que trocam a maternidade pelo trabalho, adoção, casamentos felizes mas acomodados, relações fundadas na exploração do homem etc.
Curta duração: A sensação de que "Sete Vidas" poderia continuar por mais tempo no ar se explica. A novela ficou apenas quatro meses em exibição. Com pouco mais de 100 capítulos, é bem mais curta que a média das produções da Globo. Estruturada originalmente desta forma, ela não foi "esticada", o que evitou aquela desconfortável sensação de "barriga", ou enrolação, que acomete a maioria das novelas. Acho que a emissora deveria apostar mais em histórias enxutas como esta.
Ausência de malícia: Na contracorrente da teledramaturgia atual, a novela de Licia Manzo apostou em conflitos plausíveis, sem exageros e com poucas maldades. A maior vilã da história, Marta (Gisele Froes), representou uma mulher fria, calculista e interesseira, capaz de algumas mentiras, mas nada além disso. Branca (Maria Manoella) representou uma mãe insensível, preconceituosa e vingativa. Outra personagem, Iara (Walderez de Barros), a mãe de Vicente (Ângelo Antonio) e Arthurzinho (André Frateschi), fez muita besteira em nome do excesso de zelo. Já Durval (Claudio Jaborandy) enganou Marlene (Cyria Coentro) por ser viciado em jogo.
Regina Duarte: No papel de Esther, mãe da impulsiva Laila (Maria Eduarda de Carvalho) e do contido Luis (Thiago Rodrigues), a veterana atriz brilhou na novela. Independente, libertária, casada com outra mulher no passado, ela surgiu no meio da história para injetar doses de bom senso em personagens sem rumo. Segura e à vontade, Regina mostrou mais uma vez, mesmo em um papel secundário, os seus grandes recursos como atriz. A propósito, vale destacar a qualidade de um elenco bastante homogêneo, muito bem dirigido, que manteve a novela sempre em alto nível em matéria de interpretação.
Guerra dos sexos: Dedicada ao público feminino, o mais fiel ao horário das 18h, "Sete Vidas" repetiu um padrão visto em "A Vida da Gente": personagens femininas fortes e homens fracos, indecisos, vacilões. Quase sem exceção, os personagens masculinos da novela se mostraram dependentes de mulheres compreensivas, sem saber como agir em situações difíceis e incapazes de tomar decisões. Preocupada, talvez, em corrigir uma distorção freqüente em novelas, nas quais as mulheres reproduzem clichês machistas, Licia Manzo acabou por desequilibrar a balança na outra direção, inventando homens excessivamente frágeis.
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