“No ‘Zorra’ é proibido piada homofóbica”, conta Marcius Melhem
Mauricio Stycer
10/07/2015 05h01
"Este momento em que o país vive, de muita intolerância, não permite que a gente abra este flanco", disse, referindo-se a piadas que reforçam o preconceito contra homossexuais. "Vamos ridicularizar quem é homofóbico", disse.
O humorista contou que o episódio do "Zorra" exibido no dia 13 de junho já estava pronto e finalizado quando ele soube da polêmica envolvendo uma campanha do Boticário. A marca foi objeto de repúdio por exibir uma publicidade, relativa ao Dia dos Namorados, que incluía casais homossexuais entre os contemplados por presentes.
"Decidimos fazer um quadro novo, de dois minutos, para incluir no programa. A gente precisa ter um posicionamento claro sobre isso", contou.
Resultou desta decisão uma sátira forte ao preconceito. Um pai leva o filho até uma perfumaria e reclama com uma funcionária dizendo que o perfume comprado na loja o levou a agarrar o seu motorista.
Questionado pela vendedora se o perfume provocou alguma reação alérgica, ele diz: "Reação de ódio ao processo de homossexualização que vocês querem fazer com o País. São pervertidos. Querem acabar com a família brasileira. Merecem ser boicotados".
E acrescenta: "Hoje, de manhã, sem querer, usei o perfume do meu filho, que ele comprou nessa loja, olhei para o meu motorista, e me deu um tesão desgraçado. Aí eu te pergunto: como um pai de família, com 23 anos de casado, empresário, pode agarrar o motorista desse jeito? Esse perfume transforma um macho, como eu, em uma bicha desvairada" (o quadro pode ser visto aqui).
Melhem contou que, diferentemente do que ocorreu no passado, hoje a Globo não proíbe nos programas humorísticos menções a marcas, programas da concorrência ou referências políticas.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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