“A Regra do Jogo” dá passo ousado ao colocar empresário como líder do crime
Mauricio Stycer
17/12/2015 05h01
Por 91 capítulos, o público especulou sobre quem seria o Pai, o chefão da temível organização criminosa que dá as cartas em "A Regra do Jogo". A revelação, no capítulo 92, nesta quarta-feira (16), de que ele é o empresário Gibson Stewart (José de Abreu) decepcionou quem esperava uma solução mais mirabolante de João Emanuel Carneiro – como Adisabeba (Susana Vieira), Feliciano (Marcos Caruso) ou Kiki (Deborah Evelyn).
Mas ao optar pelo personagem mais óbvio – o empresário poderoso – para encarnar o bandido maior, o autor acabou tomando uma decisão corajosa, que corre o risco de ser mal vista.
Até então, Gibson representava um industrial milionário, elitista e egoísta, com posições políticas bem conservadoras, como muitos outros no "mundo real". Agora, revelou-se que ele é também um homem ambicioso, com planos alucinados de poder, decidido a ter uma milícia privada para erguer uma nova ordem no país. É só uma novela, mas não dá para evitar traçar um paralelo com o Brasil.
Desde o início, Carneiro tem mostrado que a facção comandada pelo Pai está entranhada em todos os setores da sociedade. Que o homem responsável por criar e estruturar esta organização seja um empresário bem-sucedido reforça ainda mais o desencanto com o país pintado em "A Regra do Jogo".
O autor ainda tem a dura missão de amarrar os muitos fios que ficaram soltos depois desta revelação. Precisa, também, dar alguma lógica a uma série de situações criadas e deixadas pelo caminho, sem muita explicação. O público está irritado e cansado tanto da incompetência da organização criminosa quanto da inoperância da polícia, representada na figura do ingênuo Dante (Marcos Pigosi), neto justamente de Gibson.
"A Regra do Jogo", infelizmente, não conseguiu manter a qualidade exibida nas primeiras três semanas, quando provocou o espectador com uma trama original, ousada e criativa. A reviravolta desta quarta-feira abre o caminho para uma retomada da novela. A ver.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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