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Após revelar segredos do BBB, jornalista é convidado a entrar no CQC

Mauricio Stycer

22/12/2015 05h01

Há três meses, hospedei aqui no blog um texto do jornalista Leonardo Vinhas que causou grande comoção. Intitulado "Minha vida como ex-futuro BBB", descrevia a aventura do autor depois de ser escolhido, em uma livraria, em Curitiba, para participar de uma seletiva do "BBB16".

Rico em detalhes, excelente humor e muito bem escrito, o longo texto revela como são as dinâmicas de grupo a que são submetidos os candidatos, além de bastidores do processo seletivo.

Publicado em 18 de setembro, Candidato descreve como é a seletiva para participar do "BBB16" foi um dos textos mais lidos no UOL naquele dia. As quase duas centenas de comentários e os milhares de compartilhamentos mostram que os leitores se identificaram e aprovaram muito o relato.

A repercussão, naturalmente, causou enorme barulho na rotina de Vinhas. No texto abaixo, recém-publicado em seu blog, o jornalista descreve o que ocorreu nestes três meses – as bizarras ofertas que recebeu, as novas amizades que evitou e até a chance de um emprego, no "CQC". Vale a pena ler. Reproduzo o texto a seguir:

De "ex-futuro BBB" a "ex-quase CQC"

Em agosto, fui convidado para participar de uma seletiva para o Big Brother Brasil 2016. Contei a história aqui no Na Brodagem (em duas partes, porque textão), o Uol republicou no blog do Mauricio Stycer e, para surpresa de muita gente (a minha maior que a de qualquer um), viralizei. O post do Uol teve mais de 58 mil compartilhamentos em menos de três dias (o número final em 18 de dezembro de 2015 era 61,8 mil). Você não passa batido por uma experiência dessas. Assim como eu jamais imaginara participar com o processo seletivo para o Big Bode, tampouco sabia como seria virar web celebrity instantânea. E em ambos os casos, o processo foi assustador. Como o primeiro eu já contei, vamos então ao capítulo que encerra essa história (ou assim acredito).

No dia em que o Uol colocou o meu texto no ar, fui bombardeado desde cedo com mensagens de amigos. "Você está na capa do Uol!", era o refrão entusiasmado do dia, com direito a print screens para ilustrar o fato. Imediatamente uma foto tirada despretensiosamente em uma viagem se tornou a maior referência imagética minha na internet. Afinal, se tornou a imagem que aparecia quando alguém compartilhava o texto no Facebook, e a velocidade desse compartilhamento era de tal ordem que um amigo do Rio de Janeiro chegou a escrever: "não aguento mais essa fotinho do Vinhas de braços cruzados na minha timeline".

Escrever um texto e saber que ele é lido por milhares de pessoas é o sonho de todo escritor, mesmo daqueles que juram de pés juntos que não se importam com isso. Mas a viralização via redes sociais não traz isso sem custo. O preço é um amontoado de comportamentos estranhos. De uma hora para outra, gente que não falava muito comigo no trabalho porque eu era "esquisito" dizia que "Leonardo Vinhas me representa", para toda sua timeline ler. Colegas de faculdade que não falavam comigo há exatos quinze anos alardeavam o "orgulho" de ter "estudado ao lado desse gênio". Gente que mora na mesma cidade que eu – a menos de dois quilômetros da minha casa, diga-se – e que evita até mesmo me cumprimentar, se referia a mim como "meu camarada". Todas essas aspas são textuais.

É curioso como gente que não lembrava da minha existência, ou em alguns casos, fazia questão de me ignorar, precisava contar aos amigos que me conhecia. Ou melhor, que conhecia "o cara que está na capa do Uol". Mais curioso notar como alguns deles, que se encaixam exatamente nos tipos que eu caricaturizo e critico no texto, adoraram minha "inteligência" e minha capacidade de dizer "exatamente o que eu sempre pensei mas nunca tive espaço para falar". Claro, todo mundo marcando meu nome, para deixar claro que tinham uma ligação "íntima" comigo.

Quem já me lia ou é meu amigo fez isso também. Mas o tom era outro. Eram casos mais de surpresa (justificadíssima) por ver a exposição ampla de um texto que eu tinha escrito. A coisa era sincera e lisonjeira, nesses casos. Mas os descritos anteriormente foram maioria.

Fora os desconhecidos. Nos dois primeiros dias, neguei mais de 400 pedidos de amizade de gente que leu o texto e achou que podia se tornar íntima. Os pedidos seguiriam altos nos dias seguintes, de modo que parei de contar quando o número ultrapassou 600. Alguns só adicionavam. Outros escreviam mensagens, das mais variadas. Alguns só parabenizavam pelo texto. Uns tantos escreviam palavrões sobre o BBB antes de me elogiar. Neguinho (e neguinha) pedindo "pelamordedeus" o contato de "pessoas da Globo" porque o sonho da vida deles era "entrar na casa". Muitos rapazes lamentaram o fato de que eu nunca sairei no Papparazzo (lamentação seguida por apenas duas moças – deve ser porque, como insiste uma amiga, eu tenho "cara de bofe"). Uma fia se ofereceu para mandar nude (não aceitei, desculpem frustrá-los). Um tio fez um JPEG "inspirador" com aspas do texto (vide abaixo). Ex-BBBs me procuraram – alguns para dizer que eu estava certo ao contar tudo aquilo, e um para dizer que "me fazia, fácil". Pois é.

Inclusive descobri que existe um "grupo de WhatsApp para ex-BBBs". Tenho a sensação que acumulo karma ruim e perco uns anos de vida só de escrever essa frase.

Também houve um cidadão que me reconheceu no balcão de um bar em São Paulo. Considerando que eu moro a quase mil quilômetros da capital paulista, o negócio é ainda mais impressionante.

Ah, sim! No FB e na "vida off-line", muita gente não só entendia porque eu voluntariamente renunciara a qualquer chance de participar do programa como também ficou braba quando eu insistia que esse tipo de exposição era encrenca da grossa. E até teve quem nunca trocou mais que "bom dia" e "tchau" comigo, e mesmo assim pediu para, "caso a Globo te procure mesmo assim", poder aparecer em casa quando eu fosse receber o convite para o programa.

Claro que teve muita coisa legal também. Gente que eu admiro – e que eu nem imaginava que conhecia meu trabalho – me escrevendo para dizer que achou o texto ótimo. Professores universitários e de ensino médio que diziam ter adorado o texto e pediam permissão para utilizá-lo em sala de aula. Jornais de bairro, distribuídos gratuitamente, querendo usar o texto em suas publicações. Pessoas educadas que, dizendo que queriam ler mais textos, pediam que eu habilitasse a opção "Seguir" no FB para que pudessem ler os que viessem pela frente.

Esse reconhecimento do trabalho é agradável, não tenha dúvida. Porém, a velocidade da coisa toda é assustadora, e as maluquices incomodam. Em menos de 24 horas, fui alçado de completo desconhecido para assunto do momento. Se eu tivesse um smartphone, então, teria sido desesperador. Felizmente não tenho, o que fez com que bastasse desligar o notebook para a adulação excessiva não ter para onde escoar, e eu "só" tivesse que lidar com ela no contato pessoal (o que eu dificultei, ficando tão recluso quanto as obrigações profissionais permitiam).

Evidentemente, o "assunto do momento" dura, com o perdão da obviedade, apenas um instante. Passado o calor da discussão, tudo é esquecido. Você inclusive. Imagine, então, como é para um ator, apresentador ou músico, ser idolatrado e incensado por meses… para depois cair no ostracismo. Se o camarada não tiver uma base emocional muito sólida, ele certamente pira.

E no meio disso tudo, o produtor do CQC me adicionou no LinkedIn (a vida não é só Facebook, veja você) me convidando para fazer um teste para o programa. Assim, direto. Disse que gostou do humor daquele texto e de outros que ele e o diretor do programa haviam lido, e me chamou para ver onde isso ia dar. Ser chamado para trabalhar (lembremos que sou jornalista de profissão), e não simplesmente me expor, por reconhecimento da minha experiência prévia, é mais lisonjeiro e lógico que entrar para um reality show totalmente irreal. Porém, traria os mesmos problemas, ainda que em menor escala, de estar no BBB – e implicaria em voltar para São Paulo, cidade que deixei há dois anos e para o qual não estou preparado ou mesmo com vontade de voltar.

No fim, não precisei nem me preocupar com isso – o programa anunciou seu fim um dia desses (ok, um "sabático", mas sabe como é…). A piada é óbvia mas inevitável: a audiência estava tão baixa que chegaram a cogitar meu nome, até que alguém da cúpula do programa deve ter dito: "pessoal, a gente tá pensando em colocar o Vinhas no CQC. Acho que já passou da hora de pararmos…"

Tudo isso – da publicação do texto no Uol até a o assunto não ser mais "obrigatório" em qualquer lugar que eu fosse – durou menos de duas semanas. Depois, tudo voltou a ser como era, sem nenhuma mudança substancial, a não ser uma audiência maior para o Na Brodagem. Como antes do texto a audiência era de quatro pessoas – os três autores do blog mais o Thibes – não foi exatamente um grande mérito.

Deu para aprender algumas muitas lições no processo, entretanto. Uma delas é que tudo que eu havia escrito sobre excesso de exposição no texto do BBB estava correto: a simples ideia da fama pela fama tira o senso de ridículo até de quem está ao redor do "famoso" (aspas para ironia, caso não esteja claro). A outra é que fama é uma coisa muito fugaz, mas que pode viciar ou amedrontar. Confesso, não sem alguma vergonha, que fiquei com bloqueio criativo por um bom tempo, pensando no que eu iria escrever para "manter a audiência conquistada". Achava que tudo que eu escrevia era bobagem, não conseguia tirar ideia nenhuma da cabeça, e achei melhor simplesmente não escrever nada. Felizmente o Daniel teve mais culhões e escreveu algo totalmente sem relação com reality shows na sequência, lembrando que o Na Brodagem existe para que nós – os três autores – possamos nos divertir.

E o assédio, amigo, é monstruoso. Que fique bem claro: minha "fama" foi minúscula e extremamente breve. Ainda assim, forte o suficiente para lotar a caixa de e-mails, o inbox do Messenger e virar o único assunto em conversas presenciais com 95% das pessoas – muitas das quais, repito, não tinham o hábito de falar comigo. Todas querendo atenção, algumas pedindo para de alguma maneira serem arrastadas para os enganosos holofotes que eu recebia ("fala sobre mim no próximo texto seu?"). O curioso é que o texto foi tão acessado porque, no fim, as pessoas ainda se importam, e muito, com o BBB. Sua timeline e as conversas no café da firma podem estar lotadas de comentários como "eu nem assisto essa porcaria, não sei nem quem tá na casa", mas a realidade é que o texto só foi tão lido e clicado porque o assunto interessa às pessoas, sim. O conceito da fama imediata e "ao alcance de todos" se enraizou no inconsciente coletivo nacional. Além disso, parece que muita gente queria conhecer os bastidores da seleção – muita gente que não admitiria isso em voz alta, mas que estava bem curiosa, sim…

E tem, claro, haters (bem menos do que eu esperaria, é verdade – a maior parte do feedback que recebi foi elogioso) e o povo que só consegue ler com viseira de cavalo (um leitor do Uol falou que o texto era "de esquerda" – ou melhor, de um "esquerdismo patético" – e que eu era um "homem feminista"). Como diz o Neil Strauss, haters não falam mal de alguém para atacar a pessoa, e sim para que eles possam se sentir bem. Mas ódio é ódio, e não é todo dia que se está preparado para lidar com esse sentimento chegando de gente que você sequer conhece.

Enfim, a experiência toda foi bastante bizarra, e me ajudou a entender porque algumas pessoas fogem da exposição pública de maneira definitiva depois de a terem experimentado. Por outro lado, tornou ainda mais impenetrável o conceito de sedução da fama massiva (diferente da notoriedade por consequência do trabalho bem-feito), porque a vulnerabilidade que ela cria, somada à necessidade permanente de se manter em evidência e corresponder às expectativas alheias, é uma situação francamente debilitante e opressiva.

Rendeu ainda uns pensamentos estranhos sobre "canais de comunicação online", rumos de carreira e público-alvo do Papparazzo. Mas como esse texto já disse o que tinha de dizer, paramos por aqui mesmo.

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Candidato descreve como é a seletiva para participar do "BBB16"

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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