Topo

“Liberdade, Liberdade” resume as sete mudanças no rumo das novelas da Globo

Mauricio Stycer

12/04/2016 01h17

Anunciado em novembro de 2014 como diretor de Dramaturgia Diária, responsável por todas as novelas da Globo, Silvio de Abreu começa agora a ver o seu trabalho ganhar forma.

O diretor assumiu o cargo em um momento delicado. A Globo teve vários problemas com novelas exibidas nos anos anteriores e também com folhetins que foram ao ar depois que ele tomou posse, mas cujos projetos foram aprovados antes.

Com a estreia de "Liberdade, Liberdade" no horário das 23h, é possível dizer que os quatro folhetins atualmente no ar passaram pelo crivo de Abreu. Nota-se, assim, com mais clareza algumas características do projeto que o diretor está implantando na área. As ideias que tem defendido se refletem em alguns pontos básicos.

1. Menos ousadia: Nos horários das 18h30 e das 19h30, a ordem é voltar ao básico, ao feijão com arroz. Uma novela como "Meu Pedacinho de Chão", por exemplo, dificilmente seria exibida nos dias de hoje: "Não sei se funcionou. A novela foi prestigiada, um trabalho muito bem feito, mas não era o que o público espera de uma novela, por isso é uma experiência", disse Abreu em outubro de 2014. "Novela tem que voltar a ser novela", defendeu.

2. Mais fantasia: "Êta Mundo Bom" e "Totalmente Demais", ambas com ótimos resultados no Ibope, têm uma característica em comum. São novelas que apostam na fantasia, no conto de fadas, nas emoções mais básicas, nos clichês mais conhecidos. Experiências como "Além do Horizonte" ou "Geração Brasil" são hoje cartas fora do baralho.

3. Menos realidade: A próxima novela das 19h30, "Haja Coração", que estreia em maio, é uma releitura de "Sassaricando", do próprio Silvio Abreu, ambientada em São Paulo. Como já explicou o diretor Fred Mayrink, "teríamos muitos matizes para destacar ao retratar a cidade, e optamos por mostrar essa São Paulo solar, alegre. Optamos pela leveza, pensando em entretenimento para toda a família". Ou seja, uma São Paulo que não existe.

4. Mais alegoria: "Velho Chico", originalmente uma novela das 18h30, entrou de emergência no horário das 21h30 para evitar que a emissora exibisse, em sequência, mais uma história urbana com conotação policial e política. A novela de Benedito Ruy Barbosa também tem um viés político, mas aposta numa representação alegórica. Ou seja, representações figuradas da realidade.

5. Menos mundo cão: Em vez de uma modelo viciada em crack, uma agenciadora de garotas de programa e um empresário psicopata, que casou com uma mulher para ficar com a sua filha, como vimos em "Verdades Secretas", em "Liberdade, Liberdade" a Globo se volta para o século 18 e conta uma história ligada à Inconfidência Mineira.

6. Mais tolerância, menos beijo: Depois do choque causado pelo beijo entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg em "Babilônia", a Globo mudou a forma de tratar deste assunto em suas novelas. Como já havia ocorrido em "Sete Vidas", tem prevalecido a preocupação com o combate à intolerância. Dois personagens em "Totalmente Demais" enfrentaram problemas por conta de suas orientações sexuais, mas nenhum deles viveu romances com pessoas do mesmo sexo. Em "Liberdade, Liberdade", isso também vai ocorrer.

7. Menos favelas: Reclamação de muitos espectadores, a sucessão de histórias ambientadas em comunidades carentes, mostrando aspectos da realidade brasileira, saiu do ar. Nenhuma das atuais novelas mostra ambientes com estas características.

Siga o blog no Facebook e no Twitter.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

“Liberdade, Liberdade” resume as sete mudanças no rumo das novelas da Globo - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


Newsletter