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Totalmente Demais deixa conto de fadas de lado e aposta em tramas soturnas

Mauricio Stycer

15/04/2016 05h01

totalmentedemaiselizajacareÉ preciso coragem para mudar o rumo de uma novela que está dando certo. Como se diz no mundo do futebol, em time que está ganhando não se mexe. Rosane Svartman e Paulo Halm merecem, por isso, os parabéns pela ousadia de apostarem, na reta final, em histórias que desviam "Totalmente Demais" do caminho que vinha seguindo. Houve uma mudança radical, mas nem por isso o público se afastou do folhetim. Ao contrário.

"Totalmente Demais" vem se mantendo como a novela mais vista da Globo, à frente de "Velho Chico", o principal produto da emissora. Os números deste feriado mostram como, mesmo com a queda geral no Ibope, a trama segue firme em sua posição.

Na quarta-feira (20), véspera do feriado e dia em que "Velho Chico" é mais curta por causa do futebol, "Totalmente Demais" abriu quatro pontos de vantagem – 27,9 contra 23,8. Na quinta (21), a diferença foi menor, mas ainda significativa – 26,6 contra 23,8.

Por meses a fio o público acompanhou e se encantou com a história da pobre Eliza (Marina Ruy Barbosa). Narrada em tom de conto de fadas, ela é a gata borralheira que escapa do padrasto abusador, conhece um morador de rua, vira florista e, finalmente, resgatada por um príncipe encantado, se torna uma modelo de sucesso.

Sem o concurso de modelos, em torno do qual "Totalmente Demais" girou por mais de 100 capítulos, os autores optaram por algumas tramas bem soturnas, em contraste com o clima mais leve que a novela vinha seguindo.

totalmentedemaisdino2Ainda na reta final do concurso, o padrasto de Eliza, Dino (Paulo Rocha), assumiu feições monstruosas e se envolveu em uma história criminosa com o objetivo de roubar o dinheiro que a menina conquistou ao ser eleita a modelo Totalmente Demais.

Superada esta trama, com a fuga de Dino, "Totalmente Demais" voltou a tratar de um tema que já havia abordado brevemente, o da homofobia sofrida por Max (Pablo Sanábio).

Na primeira vez, o produtor havia sido espancado por homens que o viram na rua de mãos dadas com um namorado. Agora, se viu confrontado pelos pais, que não apenas rejeitam a sua orientação sexual como também são racistas.

totalmentedemaiswesley2Outro assunto pesado que os autores introduziram foi o acidente com Wesley (Juan Paiva). Buscando salvar a vida de Montanha (Toni Garrido), o garoto é atropelado e fica paraplégico. O caso tem servido para belas lições de superação e discussão de preconceitos (no capítulo desta quinta-feira, por exemplo, ele foi chamado de "aleijado").

A reta final do concurso trouxe outro assunto delicado – a revelação de que Eliza é resultado de um caso que sua mãe, Gilda (Leona Cavalli) teve com o patrão, Germano (Humberto Martins).

Por fim, "Totalmente Demais" embarcou na história de Sofia (Priscila Steinman), a filha de Germano e Lili (Vivianne Pasmanter), que havia morrido e, inexplicavelmente, dois anos depois, reaparece para se vingar dos pais, do ex-namorado e da meia irmã.

A novela já havia mostrado que a menina teve uma vida dupla no passado, envolvendo-se com Jacaré (Sérgio Malheiros) em pequenos crimes sob o codinome Nina.

totalmentedemaissofia2Fingindo ter perdido a memória, ela ressurge de forma rocambolesca para atormentar a todos. No capítulo desta quinta (14) tentou matar Eliza, empurrando-a na piscina. Jacaré também já havia tentado a mesma coisa alguns capítulos atrás (imagem no alto do texto). A menina planeja ainda roubar o cofre da casa dos pais e sabe-se lá o que mais.

"Totalmente Demais", enfim, deixou de ser aquela comédia leve que seduziu o público e está enfrentando assuntos difíceis, delicados e pesados – um conjunto que não combina, supostamente, com o horário das 19h.

Devido ao sucesso, como informou o colunista Flavio Ricco, a trama ganhou mais duas semanas, e só terminará em 27 de maio. A audiência, aparentemente, permanece fiel, o que é um bom sinal.

Publicado em 15 de abril, atualizado em 22 de abril.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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