Nos bastidores de “Velho Chico”, Fagundes é “Fafá” e diretor é “faz tudo”
Mauricio Stycer
16/04/2016 05h01
Todos os olhos estão voltados para Antônio Fagundes e Marcelo Serrado, que gravam uma cena de "Velho Chico", quando Luiz Fernando Carvalho interrompe tudo e grita: "Essas pessoas, parece, estão na fila pra comer! Se mexam!!!"
A reclamação do diretor é dirigida a um grupo de figurantes que vai aparecer na cena. Rapidamente, um assistente orienta os atores anônimos que compõem, sem falar, parte da sequência da festa do centenário de Encarnação (Selma Egrei).
A convite da Globo, assisti a uma tarde de gravação da novela na ilha de Cajaíba, em São Francisco do Conde (BA), cenário onde fica o casarão da família do coronel Afrânio de Sá Ribeiro.
A cena em questão, gravada no dia 4 de abril, foi exibida uma semana depois, no capítulo que marcou o início da nova fase de "Velho Chico". Suando muito, Carvalho comandava cerca de 200 pessoas, entre técnicos, atores e figurantes.
Exigente e perfeccionista, o diretor faz um pouco de tudo. Carvalho se dá ao trabalho, por exemplo, de pegar um ator pelo braço e mostrar como quer que ele ande em cena. O público não vai ouvir, mas ele faz questão de dizer o que os figurantes devem sussurrar enquanto Iolanda (Christiane Torloni) entra em cena.
A certa altura, toma o megafone da mão de seu assistente e passa a dar as ordens. Em outro momento, sente a necessidade de um rebatedor de luz e, por conta própria, começa a segurá-lo, até que um assistente do diretor de fotografia pega o acessório.
Enquanto dirige, Carvalho se refere aos atores pelo nome dos seus personagens. "Iolanda, você entra e finge que não está ouvindo o que as mulheres falam de você", orienta Torloni. E assim por diante.
Carvalho, que já dirigiu Fagundes em inúmeros trabalhos ("Renascer", "Rei do Gado", "Esperança", "Meu Pedacinho de Chão" e a inédita "Dois Irmãos"), parece se divertir com o ator em cena.
Já "Fafá" é só elogios para o diretor: "O Luiz Fernando é um pintor, no sentido de que põe a mão na tinta. Alguns quadros ele pinta com o dedo, como o Van Gogh. Ele gasta tinta. Ele enfia a mão". Carvalho retribui a rasgação de seda: "Só o Fagundes poderia fazer um personagem desse". Brincalhão, o ator complementa: "É um conjunto: eu elogiei ele, ele tá me elogiando."
Ao fim da gravação, enquanto os atores se retiram, Carvalho reúne todos os seus principais assistentes e repassa as principais necessidades do próximo dia de gravação. Para a cena que mostrará Afrânio tomando banho, exibida também no último dia 11, o diretor precisa que a equipe monte, de um dia para o outro, um banheiro no velho casarão. Os técnicos se olham e dizem que no dia seguinte haverá um banheiro no local.
O clima entre os principais assistentes do diretor é de respeito, sem maiores questionamentos às suas ordens. Mas parece também de muita boa-vontade e engajamento.
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O jornalista viajou a convite da Globo.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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