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Sob pressão, “Velho Chico” adota tom mais didático e “ajuda” o espectador

Mauricio Stycer

06/05/2016 07h38


O noticiário dos últimos dias mostra existir uma desavença entre Silvio de Abreu, diretor de Teledramaturgia diária da Globo, e Luiz Fernando Carvalho, diretor de "Velho Chico", a respeito dos rumos da novela das 21h da Globo.

De acordo com o site Noticias da TV, Abreu fez uma série de observações críticas sobre a trama: "falta de romance, narrativa lenta, figurino incompatível com a região (Nordeste) e época (contemporânea) e erro na caracterização dos personagens de Antonio Fagundes (Afrânio) e Iolanda (Christine Torloni)".

Carvalho ainda não deu sinais de que pretende alterar o tom adotado na direção da novela. Mas esta semana, em pelo menos três situações, "Velho Chico" exibiu um didatismo inédito, buscando explicar situações e "ajudar" o espectador a entender diferentes desenvolvimentos da trama.

Na terça (03), Martin (Lee Taylor) apareceu pela primeira vez. Ele é irmão Maria Tereza (Camila Pitanga) e filho mais novo de Afrânio e Leonor. Na sua primeira cena, ele esclareceu, para quem anda confuso, o ano em que se passa a história de "Velho Chico".

Procurando o avô materno, Aracaçu, o personagem vai à casa de uma senhora idosa, Clementiana. "Ele morava aqui, num sítio, nas cercanias. Mas isso deve ter 40 anos", diz Martin. A senhora, mostrando estar desorientada, pergunta: "E que ano é esse?" "2016", ele responde.

Na quarta (04), uma conversa de Afrânio com o neto Miguel (Gabriel Leone) teve a intenção de explicar para o espectador por que o coronel interpretado por Antonio Fagundes está tão diferente daquele que foi vivido por Rodrigo Santoro na primeira fase.

"Teu avô nunca sonhou em ser coronel nesta vida. Não tinha ideia do que era um pé de algodão", diz Afrânio ao neto. Ele conta que queria ser político, mas voltou à fazenda para enterrar o pai, Jacinto (Tarcísio Meira), e levou um susto ao ver os contratos que ele havia deixado assinados.

"Foi assim, de tropeço em tropeço, que engrossei meu couro. Peguei as rédeas do destino em minha mão e pensei comigo mesmo: 'Se a vida quer que você seja um coronel, Afrânio de Sá Ribeiro vai ser o maior coronel que essa vida já viu'. Foi assim que nasceu o coronel Saruê."

Afrânio ainda explicou ao neto a origem do apelido Saruê, dado por um inimigo, o coronel Rosa (Rodrigo Lombardi), mas que foi incorporado por ele e se tornou a sua marca.

Já na quinta (05), a primeira aparição de padre Benício (Carlos Vereza) foi uma oportunidade de repassar várias situações da trama e explicar outras. Conversando com Luzia (Lucy Alves), o padre explica o que Miguel veio fazer na fazenda do coronel Afrânio: "As coisas podem tomar outro rumo, filha. Esse menino, o neto do coronel, que veio tomar conta da fazenda. Pelo que eu sei, ele veio para mudar a cabeça do avô".

Este esforço maior por didatismo é uma mudança notável em "Velho Chico", mas não uma alteração de fundo. Parece ser uma forma encontrada de satisfazer o desejo de Silvio de Abreu, mas sem mudar o estilo do diretor. Vamos acompanhar.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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