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Sete razões que explicam por que “Liberdade, Liberdade” não pegou

Mauricio Stycer

17/05/2016 07h01


Como diz Silvio de Abreu, diretor de Teledramaturgia diária da Globo, "novela deve ser como catapora, precisa pegar". O que há de errado com "Liberdade, Liberdade"? Apesar da audiência razoável, por que ninguém comenta a novela das 23h da Globo? O que falta à história? Tenho me perguntado isso desde a estreia, em 11 de abril. Exibidos os primeiros 21 capítulos, um terço da história, aproximadamente, ainda não encontrei a reposta. Mas tenho algumas pistas.

O pano de fundo é pobre
. A novela se passa em Vila Rica (atual Ouro Preto), no início do século 19 – uma cidade que os historiadores descrevem como de muita efervescência e importância. Em "Liberdade, Liberdade", a cidade não tem relevância alguma. Há ali um bordel e nada mais. Não existe nenhum tipo de vida cultural, intelectual ou boemia na cidade.

Crítica à escravidão. É um tema importante de "Liberdade, Liberdade". Mas tratado de forma repetitiva, sem maior criatividade. Todo capítulos vemos as terríveis condições de vida dos escravos – a maioria da população de Vila Rica. Mas não há quase nenhuma história envolvendo os escravos. O sofrimento é tratado como se fosse uma espécie de cenário, uma tela – sem vida.

A heroína é chata. Criada em Portugal, Joaquina (Andreia Horta) é arrogante, superior, incapaz de compreender a realidade da colônia. Não tem humor algum. A intenção é mostrar uma personagem moderna, com ideias liberais, mas o resultado, não sei se por influência do texto, da direção ou da atriz, tem sido uma mulher difícil de engolir.

Capítulos curtos demais. Como outras novelas no horário, "Liberdade, Liberdade" é exibida quatro dias por semana (quarta-feira não tem). Os capítulos têm duração entre 25 e 35 minutos, em média – a metade do tempo de exibição dos capítulos das novelas das 19h30 e 21h30.

Edição picotada. Talvez por conta da duração dos capítulos, as cenas são excessivamente curtas. A novela tem ritmo de videoclipe. Mal você se interessa por um diálogo, ele é cortado e a trama passa para outra história. Pense, ao final de um capítulo, sobre o que mais te marcou. É difícil lembrar.

Atores presos. "Liberdade, Liberdade" conta com ótimos atores, mas os papéis, em sua maioria, não dão espaço para maiores voos. Mateus Solano e Lilia Cabral, por exemplo, me parecem desperdiçados na história. Nathalia Dill, vivendo uma rara personagem com veia cômica, está se saindo muito bem. Marco Ricca também conseguiu criar um tipo interessante, apesar das aparições esporádicas.

Entretenimento limitado. Havia a preocupação de fazer uma novela de época sem resvalar no didatismo, priorizando a diversão. De fato, não é chata, mas enfrenta dificuldades para divertir. A grande questão, o envolvimento da heroína, Joaquina, com o vilão, Rubião, não está tendo apelo maior. As histórias paralelas, tão picotadas, não prendem a atenção.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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