Até os autores riram do melodrama “mexicano” no fim de “Totalmente Demais”
Mauricio Stycer
30/05/2016 06h01
"Totalmente Demais" termina nesta segunda-feira (30) consagrada como uma das novelas mais leves e bem-sucedidas dos últimos anos no horário das 19h30. Talvez por conta da necessidade de espichar a trama além conta que previam, os autores se viram obrigados a fazer alguns malabarismos não desejados.
Nos capítulos que antecederam o desfecho, por exemplo, Rosane Svartman e Paulo Halm perderam o pudor e embicaram a novela na direção de um melodrama rasgado, eventualmente constrangedor.
Com limitações por conta da faixa horária, os autores economizaram nas cenas de violência, mas a direção caprichou nas caras e bocas dos atores. As cenas de luta resultaram, por este motivo, estranhas e toscas, incluindo a apoteótica queda de Dino, empurrado por Eliza, do alto do sobrado.
Mas o pior veio depois. Esfaqueado por Dino, Jonatas foi levado ao hospital. Lá, o médico informou que o jovem só seria salvo se fosse submetido a um transplante. Eliza se candidatou como doadora e foi imediatamente aceita.
Deitada no leito do hospital, no capítulo de sexta-feira (27), deu a mão ao amado antes de apagar, sob efeito da anestesia. Ao acordar, disse: "Agora, você tem um pedacinho de mim em você. Te amo".
Por meio da personagem Stelinha (Gloria Menezes), os próprios autores riram do exagero. Ao tomar conhecimento do que havia acabado de ocorrer, a mãe de Arthur fez piada: "Essa menina só pode ser mexicana. A vida dela é um melodrama infindável". Pois é…
O transplante se tornou peça essencial dos diálogos. "Viajo amanhã, mas não esquece: é só um até logo", disse Eliza ao se despedir de Jonatas. "Nem se eu quisesse. Agora eu carrego um pedaço de você dentro de mim". Em outro momento, falando com os familiares, ele repetiu: "Muita coisa muda em um ano, mas pelo menos eu guardei um pedaço dela dentro de mim".
Enfim… Esse baixo astral exagerado de "Totalmente Demais" foi uma preparação para o último capítulo, excepcionalmente exibido numa segunda-feira. Acredito que os fãs da novela não se importaram. Eles só querem saber com quem Eliza vai ficar.
Em tempo: No Twitter, Rosane Svartman comentou o texto com a seguinte observação: "Amamos o melodrama, um ingrediente do folhetim televisivo. E amamos as tiradas e reflexões tortas de Stelinha também."
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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