Topo

De volta aos primórdios da TV, emissora vende nome de programa a uma marca

Mauricio Stycer

02/07/2016 07h01

MegaSenhaSidneyOliveira
Inaugurada em 18 de setembro de 1950, a TV no Brasil começou de forma precária, sem conhecimento e profissionais em número suficiente para dar conta da tarefa complexa de colocar programas no ar.

Agências de publicidade americanas, com filiais no país, ajudaram nos primeiros tempos, criando e desenvolvendo programas ao gosto de seus clientes.

O mercado publicitário também teve força e influência para garantir que uma série de atrações portasse no título a marca dos patrocinadores, como "Repórter Esso", "Gincana Kibon", "Teatrinho Trol", "Sabatina Maisena", entre muitos outros.

Seja pela venda descontrolada de espaços publicitários, seja pela exibição ao vivo dos comerciais, a situação costuma ser descrita como caótica nestes primeiros tempos. Para quem tiver interesse em saber mais sobre o assunto, sugiro a leitura de "O Campeão de Audiência", autobiografia de Walter Clark (1936-1997).

Fiz esta introdução para comentar a informação de que a RedeTV! vendeu o nome de um programa para um anunciante. A partir de agora, e até 2019, o game show apresentado por Marcelo de Carvalho se chamará "Mega Senha Sidney Oliveira". A emissora não divulgou os valores envolvidos na transação.

A marca já era anunciante do programa. Agora, além de batizar a atração, também será tema de perguntas. Semanalmente, haverá a "Pergunta Sidney Oliveira", na qual as palavras a serem adivinhadas pelos participantes estarão relacionadas aos produtos.

É verdade que Silvio Santos também faz isso com sua linha de cosméticos. Mas não é um bom parâmetro de comparação. O dono do SBT, como se sabe, sempre entendeu a televisão como um meio para vender os produtos das suas empresas.

Transformar um programa em um outdoor, como está fazendo a RedeTV!, passa a impressão de um retrocesso, uma volta aos primórdios da televisão. Uma das campeãs em venda de horários para terceiros (igrejas, associações e marcas), a emissora sinaliza com esta volta ao passado que está sentido na pele a crise econômica pela qual o país está passando.

Siga o blog no Facebook e no Twitter.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.