SBT 35 anos: Silvio Santos quase sempre desprezou o jornalismo da emissora
Silvio Santos, como se sabe, tem uma visão muito peculiar sobre o jornalismo, expressa em uma declaração cristalina, dada em março de 1985: "Eu já dei ordens aos jornalistas da minha empresa para nunca criticar, só elogiar o governo. Se for para criticar, é melhor não falar nada, é melhor ficar omisso".
Nos princípios editoriais do SBT, divulgados em 1988 e relançados, em campanha publicitária, em 2013, está escrito: "O tom do jornalismo deve ser otimista, procurando mostrar que, mesmo nas situações mais trágicas, é possível dar a volta por cima".
Estas duas visões deixam claro que, no fundo, o Patrão despreza o jornalismo. Ao longo da história do SBT isso ficou claro inúmeras vezes – a situação mais recente foi a decisão de ignorar a histórica votação do impeachment da presidente Dilma na Câmara dos Deputados, em abril de 2016.
Silvio Santos calculou que, como os seus concorrentes mostrariam a sessão, ele ofereceria entretenimento no mesmo horário – conquistou a vice-liderança com esta estratégia.
Em alguns poucos momentos, pressionado pela área comercial da emissora, que julgava importante ter um bom jornalismo, pelo prestígio e anunciantes que traz, Silvio investiu na área. A contratação mais célebre foi de Boris Casoy, que estreou o "TJ Brasil", em 1988. Marília Gabriela foi outra contratação de peso do dono do SBT e o policial "Aqui Agora" (1991-97) fez história no telejornalismo brasileiro.
A imagem mais emblemática do jornalismo do SBT foi o programa dominical "A Semana do Presidente". No ao ar por cerca de 20 anos, entre os governos Figueiredo e FHC, documentava em tom oficialista atos do poder. Uma prova a mais do desprezo de Silvio Santos pelo jornalismo. Outra imagem bem ilustrativa é o telejornal que ficou conhecido (imagine por quê?) como "Jornal das Pernas".
Em fevereiro de 1988, ele disse à Folha: "Eu sou concessionário, um 'office-boy' de luxo do governo. Faço aquilo que posso para ajudar o país e respeito o presidente, qualquer que seja o regime".
Em abril de 2014, preocupado com a repercussão de um comentário, Silvio Santos determinou que a âncora Rachel Sheherazade não podia mais emitir opiniões pessoais no telejornal que comanda. Ou seja, silenciou a âncora.
Este texto faz parte do especial SBT 35 Anos. Veja AQUI.
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