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SBT 35 anos: Silvio Santos quase sempre desprezou o jornalismo da emissora

Mauricio Stycer

19/08/2016 07h00

Silvio Santos, como se sabe, tem uma visão muito peculiar sobre o jornalismo, expressa em uma declaração cristalina, dada em março de 1985: "Eu já dei ordens aos jornalistas da minha empresa para nunca criticar, só elogiar o governo. Se for para criticar, é melhor não falar nada, é melhor ficar omisso".

Nos princípios editoriais do SBT, divulgados em 1988 e relançados, em campanha publicitária, em 2013, está escrito: "O tom do jornalismo deve ser otimista, procurando mostrar que, mesmo nas situações mais trágicas, é possível dar a volta por cima".

Estas duas visões deixam claro que, no fundo, o Patrão despreza o jornalismo. Ao longo da história do SBT isso ficou claro inúmeras vezes – a situação mais recente foi a decisão de ignorar a histórica votação do impeachment da presidente Dilma na Câmara dos Deputados, em abril de 2016.

Silvio Santos calculou que, como os seus concorrentes mostrariam a sessão, ele ofereceria entretenimento no mesmo horário – conquistou a vice-liderança com esta estratégia.

Em alguns poucos momentos, pressionado pela área comercial da emissora, que julgava importante ter um bom jornalismo, pelo prestígio e anunciantes que traz, Silvio investiu na área. A contratação mais célebre foi de Boris Casoy, que estreou o "TJ Brasil", em 1988. Marília Gabriela foi outra contratação de peso do dono do SBT e o policial "Aqui Agora" (1991-97) fez história no telejornalismo brasileiro.

A imagem mais emblemática do jornalismo do SBT foi o programa dominical "A Semana do Presidente". No ao ar por cerca de 20 anos, entre os governos Figueiredo e FHC, documentava em tom oficialista atos do poder. Uma prova a mais do desprezo de Silvio Santos pelo jornalismo. Outra imagem bem ilustrativa é o telejornal que ficou conhecido (imagine por quê?) como "Jornal das Pernas".

Em fevereiro de 1988, ele disse à Folha: "Eu sou concessionário, um 'office-boy' de luxo do governo. Faço aquilo que posso para ajudar o país e respeito o presidente, qualquer que seja o regime".

Em abril de 2014, preocupado com a repercussão de um comentário, Silvio Santos determinou que a âncora Rachel Sheherazade não podia mais emitir opiniões pessoais no telejornal que comanda. Ou seja, silenciou a âncora.

Este texto faz parte do especial SBT 35 Anos. Veja AQUI.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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