Série da Cultura sobre novelas resgata a história dos teleteatros no Brasil
Mauricio Stycer
09/10/2016 06h01
Com um ano de atraso em relação à data, comemorada em 2015, a TV Cultura estreia neste domingo, às 19h30, a série "Novela – 65 anos de Emoções". Serão oito episódios, contando histórias dos primórdios aos dias atuais.
Se faltou agilidade à emissora, ao menos sobrou preocupação com a memória da televisão brasileira. O episódio de estreia, por exemplo, "Os Teleteatros e as Primeiras Novelas", resgata algumas raras imagens existentes (as encenações eram, em sua maioria, ao vivo) e vários antigos depoimentos sobre um período muito pouco conhecido.
O melhor é a reconstituição de dois projetos fundamentais – o "TV de Vanguarda", exibido pela Tupi-SP entre 1952 e 1967, e o "O Grande Teatro Tupi", realizado no Rio, entre 1956 e 1965.
Ambos levaram ao ar, durante anos, centenas de adaptações de peças de teatro. Como em outros países, esta experiência foi o embrião da teledramaturgia e ajudou a formar algumas gerações de autores-roteiristas, técnicos e atores.
A segunda parte do episódio evoca as primeiras novelas produzidas no país – igualmente com a ajuda de depoimentos gravados em outros momentos, para outras situações.
Do primeiro teleteatro, "A Vida por um Fio" (1950), na Tupi, à primeira telenovela, "Sua Vida Me Pertence" (1951-52) e, depois, à "2-5499 Ocupado" (1963), o primeiro folhetim diário, exibido pela Excelsior em julho de 1963, sobram ótimos depoimentos sobre as aventuras daqueles tempos.
Aracy Cardoso conta que não queria beijar Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974) em "A Canção de Bernardete" (TV Tupi, 1957), mas ele a pegou nos braços e a beijou assim mesmo. "Eu era casada, não queria beijar", ela conta.
Em outra passagem curiosa, o especial conta que Nelson Rodrigues (1912-1980) escreveu três telenovelas – "A Morta sem Espelho" (1963), "Sonho de Amor (1964) e "O Desconhecido" (1964). Nesta última, é lembrado que o personagem de Sebastião Vasconcelos (1927-2013) hipnotizava a vizinha, vivida por Nathalia Timberg, pelo telefone.
Hipnose por telefone? "A novela atinge aquela área de puerilidade que é eterna no ser humano", ouvimos Nelson dizer no episódio.
O programa conta com a colaboração, na qualidade de produtor, do pesquisador Hermes Frederico, que fez as séries "Damas da TV" e "Grandes Atores" para o canal Viva. Atílio Bari acumula as funções de roteirista, diretor e apresentador.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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