Bastidores da exposição: Silvio rejeitou nomes de Hebe e de general em museu
Mauricio Stycer
08/12/2016 06h01
Além da belíssima homenagem que representa, a exposição sobre Silvio Santos no Museu da Imagem e do Som tem, também, o mérito de desfazer lendas, corrigir erros e estabelecer critérios para uma biografia do apresentador.
Nos contatos com a equipe do museu, o dono do SBT deixou claro que o principal livro a seu respeito, "A Fantástica História de Silvio Santos", de Arlindo Silva, não deve ser levado totalmente ao pé da letra.
A exposição corrige, por exemplo, o título do filme que ele viu repetidas vezes na juventude. O livro fala no western "O Vale dos Desaparecidos" (1942), mas Silvio esclareceu para a turma do museu que era o drama "Always in My Heart" (1942).
Por conta desta informação, a curadora de "Silvio Santos vem aí!", Gabrielle Araujo, perdeu algumas semanas até encontrar uma cópia em DVD do filme – trechos são exibidos na exposição.
Também ficou de fora da mostra, por não ser verdade, segundo Silvio, um episódio dramático contado por Arlindo. O menino Senor Abravanel teria escapado de ir a um cinema que pegou fogo porque, no dia, estaria com febre e a mãe o obrigou a ficar em casa.
Mais importante, ainda, Silvio elencou para o museu quem são as pessoas que considera fundamentais em sua trajetória – aquelas que, de alguma maneira, o ajudaram, contribuíram ou tiveram influência em seus passos. Diante de uma lista de nomes, o empresário aprovou alguns e rejeitou outros que seriam incluídos em uma espécie de calçada da fama colocada ao longo de toda a exposição.
O MIS sugeriu uma homenagem a "João e Dulce Figueiredo". O dono do SBT observou que recebeu ajuda da primeira-dama, Dulce Figueiredo (1928-2011). Por este motivo, o museu optou por deixar de fora o nome de seu marido, o general João Figueiredo (1918-1999), presidente do Brasil entre 1979 e 85. O mesmo ocorreu com o ministro das Comunicações da época, Haroldo Correa de Mattos. Esta observação de Silvio confirma a lenda de que tinha uma boa relação com a primeira-dama e que ela teve papel importante no lobby a favor da concessão do canal de TV ao empresário.
Principal responsável pela pesquisa e seleção do material, Gabrielle Araujo contou com a ajuda de dois pesquisadores externos – Elmo Francfort, diretor da associação Pró-TV, e Alan Gomes, especialista em Silvio Santos.
A curadora recomenda ao visitante dispor de, no mínimo, 90 minutos para usufruir do material que está em exposição. Uma das preciosidades que ela garimpou é um vídeo da Record, "Especial Dia D", no qual Silvio dirige um táxi e beija Wanderléa, além de entrevistar Roberto Carlos.
Até mesmo o vídeo do desfile da escola de samba Tradição, em 2001, que homenageou Silvio, foi difícil de obter. A Globo só o enviou na véspera da abertura da exposição.
Ideia antiga do MIS, a exposição só começou a se materializar em abril deste ano, depois que o SBT deu sinal verde. A emissora fez poucos reparos ao projeto – um deles foi exigir a inclusão de referências a Bozo, Chaves, "Show do Milhão" e "Casa dos Artistas".
Os dois primeiros são "descobertas" de Silvio, a respeito das quais ele se orgulha muito. Reza a lenda que chegou a pensar em ele mesmo encarnar o personagem Bozo na TV, mas foi demovido da ideia por diretores da emissora na época.
Outra preciosidade da mostra é o filme "Ninguém Segura Essas Mulheres" (1976) – primeira e única incursão de Silvio Santos no cinema. Trechos do filme, cuja única cópia conhecida está na Cinemateca de São Paulo, são vistos no MIS. Com produção de Luciano Calegari, a pornochanchada em quatro episódios conta com Jece Valadão, Denis Carvalho, Vera Gimenez, Tony Ramos, Nadia Lipi e Milton Morais no elenco.
Atualizado às 12h.
Exposição "Silvio Santos Vem Aí!"
Data: 7 dezembro a 12 de março
Local: MIS (Museu da Imagem e do Som) – Avenida Europa, 158, São Paulo
Horário: 11h às 20h (terça a sexta-feira); 10h às 21h (sábados); 10h às 19h (domingos e feriados)
Ingressos: R$ 12,00 (inteira) e R$ 6,00 (meia-entrada). Grátis às terças e para crianças até cinco anos. Bilheteria abre uma hora antes da visitação. Venda antecipada: www.ingressorapido.com.br.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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