“Não tenho nada contra música sertaneja”, diz autora de “Rock Story”
Mauricio Stycer
25/01/2017 04h02
No ar desde a segunda semana de novembro de 2016, "Rock Story" tem se saído bem na tarefa de suceder duas novelas de sucesso, "Haja Coração" e "Totalmente Demais", com uma proposta muito diferente.
A primeira novela assinada por Maria Helena Nascimento tem como protagonista um roqueiro no ocaso da carreira, Gui Santiago (Vladimir Brichta), e como antagonista um jovem cantor romântico, Leo Regis (Rafael Vitti). Os universos musicais que ambos representam servem de pano de fundo da história.
Por mais de 20 anos assinando como colaboradora de autores como Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Antonio Calmon, Maria Helena só teve a oportunidade de assinar como autora, pela primeira vez, agora, já bem experiente e madura.
Gostaria de saber como você encarou este longo percurso. E de que forma esta experiência acumulada teve impacto em "Rock Story".
Esse longo caminho me deu a segurança que eu precisava antes de encarar uma empreitada deste tamanho. Trabalhei de perto com mestres e aprendi não só os princípios desse tipo de dramaturgia, como o método de cada um. Método é tão importante como criação, num trabalho de 180 capítulos. Na vida pessoal também foi bom ter esperado – não consigo imaginar o que é fazer uma novela com filhos pequenos ou adolescentes. E acho que tem um dado de geração também, na minha é comum as pessoas acontecerem meio tarde. Talvez seja um resto de herança hippie.
Pelo contrário. Isso sempre foi apontado como uma qualidade, desde o começo, e fico feliz que seja assim, porque é resultado de um esforço consciente mesmo. Para mim, as contradições são o que a gente tem de mais humano e interessante.
Outra característica muito interessante de "Rock Story" é a valorização, como diz o título, do rock e de toda uma mitologia em torno dele (o dono da gravadora, a namorada, o empresário etc). Você concorda que a novela é nostálgica?
É sim. Aquela gravadora é completamente vintage, não existe mais uma assim na realidade…
Escrevi recentemente que "Rock Story" faz uma defesa da boa música brasileira, dos anos 60, 70 e 80. Vejo essa postura quase como a de um manifesto em meio à repetição que se ouve nas rádios atualmente. Como você vê esta questão? A novela está tocando as músicas que você gosta?
Está. Adoro ver o repertório do Gui, da banda, da Laila… A escolha das músicas passa mais pelo Dennis (Carvalho), porém estamos super afinados. Mas é menos um manifesto e mais como montar uma lista de músicas para uma festa de amigos. Acho que esse repertório da novela tem um caráter afetivo muito forte.
Descobri por acaso, dias antes da estreia! Nem dava mais para mudar… Mas não tem provocação nenhuma. Não tenho o menor problema com música sertaneja, pelo contrário. E na minha cabeça o Léo é pop, é um Justin Bieber.
Você já disse que a inspiração inicial da história surgiu da leitura da biografia de um integrante do One Direction. Podemos esperar que a banda Quatro Ponto Quatro troque o rock por música mais comercial?
Um pouquinho, sim. Mas apesar do nome da novela e de gostar de rock, vou confessar que prefiro música pop. Ela pode ter mais apelo comercial, mas tem um apelo emocional muito forte também.
O que podemos esperar mais de "Rock Story"?
Estamos trabalhando duro aqui pra manter a novela movimentada e ir mais fundo nessas contradições e imperfeições dos personagens. E ainda vamos ter muita música, claro.
E quais são seus planos para depois da novela? Tem outros projetos de teledramaturgia engatilhados?
Plano pra depois da novela: férias. E tenho dois projetos que vou rever com calma no meio do ano, com a cabeça descansada.
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Crédito da foto de Maria Helena Nascimento: GLOBO/Sergio Zalis
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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