Topo

Jacquin sendo Jacquin, e não Ramsay, é o melhor de “Pesadelo na Cozinha”

Mauricio Stycer

27/01/2017 11h05

pesadelonacozinhachefeedonos
A onda de programas de gastronomia na TV deve muito ao britânico Gordon Ramsay, que em 2004 estreou no Channel 4 duas atrações marcantes – "Hell´s Kitchen" e "Kitchen Nightmares". Ambas se tornaram franquias gordonramsayinternacionais e foram refeitas em dezenas de países.

O primeiro formato, traduzido como "Cozinha sob Pressão", foi adaptado no Brasil pelo SBT, inicialmente com Carlos Bertolazzi (2014-15) no papel da comandante da competição entre cozinheiros profissionais. Depois de três edições tentando emular Ramsay, o chef brasileiro foi considerado difícil de "domar" pela emissora e trocado por Danielle Dahoui (2016).

A Band, responsável por instalar esta mania entre nós, com a sua versão do "MasterChef" (2014), resolveu agora adaptar "Kitchen Nightmares", aqui chamado de "Pesadelo na Cozinha". Para o papel de Ramsay, foi escalado Erick Jacquin. O formato mostra o chef na função de consultor de restaurantes em crise, primeiro tentando entender o que não está funcionando e, em seguida, sugerindo soluções para salvá-lo.

A alma do programa, evidentemente, é o chef experiente que, com superioridade, aponta aos donos dos restaurantes, cozinheiros e funcionários tudo que eles estão fazendo de errado.

Jacquin se mostrou uma ótima escolha para o lugar de Ramsay. Os três anos de experiência no "MasterChef" o ajudaram a desenvolver um estilo próprio, muito querido pelos espectadores. Ele faria um papel ridículo se tentasse imitar o britânico.

No primeiro episódio, exibido nesta quinta-feira (26), Jacquin mostrou talento para perceber os erros e falhas do restaurante que visitou, mas impaciência, nenhum didatismo e total falta de jeito para a tarefa de ensinar o caminho certo. Esta mistura funcionou perfeitamente bem.

Os seus diálogos com Jeferson, o único garçom da casa, interrogado logo no início do programa, foram impagáveis:

Jacquin: Esse pão é ruim. Onde vocês compram esse pão?
Garçom: Na padaria.
Jacquin: Então tem que trocar de padaria!

Com a dona do restaurante, igualmente, o chef francês teve a oportunidade de mostrar o seu humor peculiar:

Jacquin: O que é isso aqui?
Amada: São as panelas da minha sogra.
Jacquin: Pode devolver pra ela.
Amada: Ela já morreu.
Jacquin: Mas devia ter levado as panelas junto.

pesadelonacozinhajacquinA certa altura, chocado com as brigas entre Amada e seu marido, administrador da casa, o chef desabafou, deixando escapar uma autocrítica: "Eu ouço falar que brigo, que xingo, mas nesse ponto, gente?" Em seguida, sem esconder o constrangimento a que foi submetido, o chef promoveu uma espécie de terapia de casal para a dupla.

A presença de um narrador, complementando algumas falas de Jacquin, é uma opção de algumas versões de "Kitchen Nightmares" que não me agrada, mas a Band recorreu pouco a esta muleta. A duração do programa, cerca de 90 minutos, também foi na medida (ninguém aguenta mais as intermináveis edições do "MasterChef").

Mas o melhor mesmo foi Jacquin sendo Jacquin. Mandou muito bem.

Abaixo, um dos momentos mais críticos do programa de estreia:

Siga o blog no Facebook e no Twitter.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.