Jacquin sendo Jacquin, e não Ramsay, é o melhor de “Pesadelo na Cozinha”
A onda de programas de gastronomia na TV deve muito ao britânico Gordon Ramsay, que em 2004 estreou no Channel 4 duas atrações marcantes – "Hell´s Kitchen" e "Kitchen Nightmares". Ambas se tornaram franquias internacionais e foram refeitas em dezenas de países.
O primeiro formato, traduzido como "Cozinha sob Pressão", foi adaptado no Brasil pelo SBT, inicialmente com Carlos Bertolazzi (2014-15) no papel da comandante da competição entre cozinheiros profissionais. Depois de três edições tentando emular Ramsay, o chef brasileiro foi considerado difícil de "domar" pela emissora e trocado por Danielle Dahoui (2016).
A Band, responsável por instalar esta mania entre nós, com a sua versão do "MasterChef" (2014), resolveu agora adaptar "Kitchen Nightmares", aqui chamado de "Pesadelo na Cozinha". Para o papel de Ramsay, foi escalado Erick Jacquin. O formato mostra o chef na função de consultor de restaurantes em crise, primeiro tentando entender o que não está funcionando e, em seguida, sugerindo soluções para salvá-lo.
A alma do programa, evidentemente, é o chef experiente que, com superioridade, aponta aos donos dos restaurantes, cozinheiros e funcionários tudo que eles estão fazendo de errado.
Jacquin se mostrou uma ótima escolha para o lugar de Ramsay. Os três anos de experiência no "MasterChef" o ajudaram a desenvolver um estilo próprio, muito querido pelos espectadores. Ele faria um papel ridículo se tentasse imitar o britânico.
No primeiro episódio, exibido nesta quinta-feira (26), Jacquin mostrou talento para perceber os erros e falhas do restaurante que visitou, mas impaciência, nenhum didatismo e total falta de jeito para a tarefa de ensinar o caminho certo. Esta mistura funcionou perfeitamente bem.
Os seus diálogos com Jeferson, o único garçom da casa, interrogado logo no início do programa, foram impagáveis:
Jacquin: Esse pão é ruim. Onde vocês compram esse pão?
Garçom: Na padaria.
Jacquin: Então tem que trocar de padaria!
Com a dona do restaurante, igualmente, o chef francês teve a oportunidade de mostrar o seu humor peculiar:
Jacquin: O que é isso aqui?
Amada: São as panelas da minha sogra.
Jacquin: Pode devolver pra ela.
Amada: Ela já morreu.
Jacquin: Mas devia ter levado as panelas junto.
A certa altura, chocado com as brigas entre Amada e seu marido, administrador da casa, o chef desabafou, deixando escapar uma autocrítica: "Eu ouço falar que brigo, que xingo, mas nesse ponto, gente?" Em seguida, sem esconder o constrangimento a que foi submetido, o chef promoveu uma espécie de terapia de casal para a dupla.
A presença de um narrador, complementando algumas falas de Jacquin, é uma opção de algumas versões de "Kitchen Nightmares" que não me agrada, mas a Band recorreu pouco a esta muleta. A duração do programa, cerca de 90 minutos, também foi na medida (ninguém aguenta mais as intermináveis edições do "MasterChef").
Mas o melhor mesmo foi Jacquin sendo Jacquin. Mandou muito bem.
Abaixo, um dos momentos mais críticos do programa de estreia:
Sobre o autor
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.