“Zorra” volta com ótima reflexão sobre o papel do humor em tempos de crise
Mauricio Stycer
16/04/2017 12h42
Em diferentes clipes promocionais antes da estreia da terceira temporada, o "Zorra" já havia colocado em dúvida a capacidade de o seus roteiristas superarem, com humor, a galhofa do mundo real. "Está difícil competir com a realidade" foi o conceito da ação.
Esta mesma reflexão foi o tema da abertura do programa, neste sábado (15). Em um clipe brilhante, com Dani Calabresa no papel de uma cantora de "sofrência", e quase todo o elenco do humorístico fazendo figuração, o "Zorra" anunciou:
"Brasil, quem é seu roteirista?
Isso aqui tá cada vez mais complicado
Tiraram as mulheres do ministério
E mandaram todas para o supermercado
Boca Mole, Todo Feio e Angorá
Tá cheio de apelido engraçado
Enquanto essa gentalha se diverte
Meu emprego está sendo terceirizado
Desse jeito vou ficar desempregada
Logo eu que já fui capa de revista
E com essa reforma da Previdência
Só me aposento se virar um congressista
Ser humorista é mais difícil do que você pensa
A gente, às vezes, fica na sofrência
Correndo atrás pra te fazer sorrir
Ser humorista assim dessa maneira não compensa
Com os políticos na concorrência,
Vai ficar cada vez pior de competir".
O segundo esquete mostrou a inauguração de uma prisão de segurança máxima. "Para que nossos cidadãos de bem se sintam tranquilos, sabendo que os malfeitores estão atrás das grades", disse o mestre de cerimônias. Convidado a cortar a fita da nova prisão, é chamado o governador. E ele sai algemado, de dentro do próprio presídio, para o ato solene.
Foi um bom cartão de visitas. Que o "Zorra" siga afiado, sem medo de rir da tragicomédia nacional.
Veja também
Nova temporada de 'Veep' lembra da falta de humor político na TV brasileira
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.