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Fantasia infantil, “Belaventura” indica novo rumo nas novelas da Record

Mauricio Stycer

08/08/2017 05h01


No ar há duas semanas, "Belaventura" chama a atenção por apontar uma mudança de rumo na teledramaturgia da Record. Sem qualquer relação com a realidade brasileira, ou com os enredos inspirados na Bíblia, é uma história ambientada num reino medieval, com forte pegada infantil.

Como tantas outras histórias do gênero, a de Gustavo Reiz mostra as alianças e conspirações em torno de um rei viúvo e amargurado desde a morte da rainha, envenenada. O seu filho e sucessor se apaixona por uma gata borralheira, que carrega uma caixa misteriosa, cobiçada por diferentes figuras do reino. A filha mais velha é ambiciosa e deseja ser rainha.

Uma prima do rei, no exílio, ambiciona voltar a ser a rainha da corte. Seu filho mais velho trama resgatar a honra da família, enquanto sua filha, para desgosto geral, apaixona-se por um plebeu.

Há princesas sofridas e outras malvadas, cavaleiros ruins e homens gentis. Inúmeros mistérios do passado cercam importantes personagens. Há até um bobo da corte, além de outros tipos simplórios e bondosos que vivem ao redor do castelo real. Os muitos encontros e desencontros amorosos são pautados pelas dificuldades que o recato da época e os compromissos familiares exigem.

Como outras novelas recentes da Record, "Belaventura" é uma produção de boa qualidade – condição essencial para sustentar uma história destas sem cair no ridículo. O texto, muito declamado, reforça o tom de fantasia, o que parece ser intencional. A direção de Ivan Zettel, igualmente, sustenta bem este esforço para transportar o espectador ao reino de Belaventura.

O elenco é enorme e, aparentemente, boa parte dele está tendo oportunidade de aparecer. A aposta maior da Record é no casal de protagonistas, os pouco experientes Bernardo Velasco e Rayanne Morais (imagem no alto), que estão se saindo bem como o príncipe rebelde Enrico e a borralheira Pietra.

Outros papéis importantes estão em boas mãos com Kadu Moliterno (rei Otiniel), Camila Rodrigues (Carmona), Adriana Birolli (Lizabetta), Giuseppe Oristanio (Cedric), Leonardo Franco (Mistral), Paulo Gorgulho (Bartolion), Floriano Peixoto (conde Severo), Helena Fernandes (Marion), Leandro Lima (Jacques) e Juliana Didone (Brione).

"Belaventura", enfim, tem se revelado um entretenimento agradável e bem realizado, de olho em um espectador interessado em escapismo completo, sem qualquer relação com o seu cotidiano. Os números de audiência, porém, estão bem abaixo dos alcançados pela novela anterior, a reprise de "Escrava Isaura".

A Record perdeu quase 30% do público entre uma produção e outra, mas não é possível afirmar que a culpa seja de "Belaventura". Ou só dela. Toda a grade noturna da emissora está sofrendo perda de Ibope por conta da decisão de encurtar o "Cidade Alerta" e reprisar "Os Dez Mandamentos" no início da noite.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.