O que o filme sobre Bozo diz e deixa de dizer de Silvio, Globo e Xuxa
Mauricio Stycer
01/09/2017 05h01
Atenção: contém vários spoilers.
Lançado há uma semana, "Bingo – O rei das manhãs" é repleto de referências à televisão brasileira, em especial ao SBT e à Globo. O filme de Daniel Rezende conta uma história inspirada em fatos reais, mas omite detalhes importantes, troca nomes e embaralha uma série de fatos e datas.
Para evitar problemas com os proprietários dos direitos autorais da marca, Bozo virou Bingo no filme. Arlindo Barreto se chama Augusto Mendes (Vladimir Brichta). O SBT é a TVP e a Globo se tornou Mundial.
Bozo foi criado nos Estados Unidos em 1946 como um personagem de histórias infantis e de discos para crianças. Três anos depois, começou a protagonizar um programa de televisão. Em 1956, o ator Larry Harmon, que vivia o palhaço da TV, comprou os direitos da marca e passou a licenciá-la nos EUA e no exterior.
Depois que Tribeck se desentendeu com Silvio, em 1982, Harmon voltou ao Brasil com o objetivo de selecionar novos atores para viver Bozo. Parte deste episódio é mostrado no filme exatamente da forma como Arlindo descreveu em entrevista à revista Piauí.
Não há qualquer referência a Silvio Santos no filme. Reza a lenda que o dono do SBT cogitou interpretar, ele mesmo, o personagem. Nem mesmo na cena em que ocorre a entrega do equivalente ao Troféu Imprensa ele aparece. Em diferentes entrevistas, Arlindo Barreto diz que Silvio o ajudou.
Silvio até hoje demonstra orgulho pela aquisição dos direitos de Bozo. Na exposição dedicada a ele no MIS, em 2016, uma das poucas exigências que fez foi a inclusão de um espaço para o palhaço.
O filme mostra o ator, enfurecido deixando a emissora apenas de sunga aos gritos – uma situação que Arlindo garante não ter ocorrido.
O filme sugere que ela morreu triste por não ter mais oportunidades na TV. No seu enterro, revoltado, Augusto não deixa Armando (Bial), o executivo da Mundial (Globo), se aproximar do caixão. Arlindo já disse em várias entrevistas que isso não ocorreu. "Ela tinha problema de coração e fumava muito", diz ele.
Há uma menção polêmica a Xuxa no filme. Ao festejar que atingiu o primeiro lugar no Ibope, Bingo zomba da TV Mundial no ar e pisa em uma boneca loira, esmagando-a.
E, por fim, há Gretchen. É a única figura real que aparece com o próprio nome no filme (vivida por Emanuelle Araujo, à esq.). De vestido curto, ela canta no programa infantil, o que ocorreu na realidade, e tem um caso com o palhaço, o que também teria acontecido.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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