Com superelenco, Filhos da Pátria vê origem da esculhambação geral do país
Mauricio Stycer
19/09/2017 05h01
"Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos". A reflexão é de Nelson Rodrigues (1912-1980) e surge na tela, como epígrafe, na abertura do primeiro episódio de "Os Filhos da Pátria". Estamos em 8 de setembro de 1822, o dia seguinte ao da Independência, e o que virá a seguir não é nada auspicioso.
Criada por Bruno Mazzeo, a série que a Globo estreia nesta terça-feira (19) descreve a transformação de um burocrata exemplar em um tipo venal, que ajuda a colocar em movimento a engrenagem corrupta da administração pública. Recorrendo ao deboche e ao escracho, o autor transforma esta história trágica num entretenimento da melhor qualidade.
Só por estes três, incríveis, "Filhos da Pátria" já vale o esforço de parar diante do aparelho de TV. Mas há mais.
Johnny Massaro é Geraldinho, o filho desocupado, ignorante e abusado do casal Bulhosa. Em um episódio, ele entra de gaiato em uma manifestação política, sem entender nada do que está acontecendo. E diz: "O importante agora é derrubar tudo isso que está aí. E depois a gente vê o que faz com o que sobrar. Primeiramente, fora Pedro!"
A música-tema de "Filhos da Pátria" não poderia ter sido mais bem escolhida, "Quando o Morcego Doar Sangue", de Bezerra da Silva (1927-2005), aquela que diz: "Para tirar meu Brasil dessa baderna / Só quando o morcego doar sangue / E o saci cruzar as pernas".
Melhor rir do que chorar parece ser a mensagem da série, cujos 12 episódios já estão disponíveis no Globo Play.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.