Inevitável, afastamento de Waack é coerente com a política atual da Globo
Mauricio Stycer
08/11/2017 22h53
Em julho de 2015, vítima de ofensas racistas nas redes sociais, Maria Julia Coutinho ganhou o direito de falar, ao vivo, no "Jornal Nacional", sobre as agressões que sofreu. Foi um momento histórico na televisão brasileira.
Dois anos e três meses depois, nesta quarta-feira (08) vazou um vídeo no qual William Waack, "ao que tudo indica", como sublinhou a Globo, faz comentários de cunho racista. Suas palavras parecem ser: "Tá buzinando por quê, seu merda do cacete? Não vou nem falar, porque eu sei quem é… é preto. É preto!"
No mesmo dia, algumas horas depois que este vídeo viralizou, a Globo anunciou o afastamento de Waack de suas funções – ele é apresentador do "Jornal da Globo", o jornalístico mais opinativo da emissora.
A Globo não poderia ter tomado atitude diferente. Seria desmoralizante, depois do espaço dado a Maria Julia Coutinho e da campanha institucional lançada em 2016, e ainda no ar, intitulada "Tudo começa pelo respeito", na qual combate todos os tipos de intolerância, o racismo e a homofobia, entre outros.
A nota ainda afirmava: "E não é uma atitude isolada. A atitude da Globo será sempre essa. A de defender que casos como esse devem ser apurados, ouvindo e oferecendo todo apoio às duas partes, dando possibilidade para que a verdade aflore e criando condições para que não se repitam".
Assim que o afastamento de Waack foi anunciado, na noite de quarta-feira, muita gente defendeu uma atitude mais drástica da Globo. Entendo que, sem certeza absoluta sobre as palavras do jornalista no vídeo, a emissora foi prudente em sua decisão inicial.
Mas não parece ser difícil atestar com segurança o que ele disse. No caso de confirmação deste conteúdo racista, creio ser impossível mantê-lo como apresentador de um telejornal como o "Jornal da Globo".
"A Globo é visceralmente contra o racismo em todas as suas formas e manifestações. Nenhuma circunstância pode servir de atenuante. Diante disso, a Globo está afastando o apresentador William Waack de suas funções em decorrência do vídeo que passou hoje a circular na internet, até que a situação esteja esclarecida.
Nele, minutos antes de ir ao ar num vivo durante a cobertura das eleições americanas do ano passado, alguém na rua dispara a buzina e, Waack, contrariado, faz comentários, ao que tudo indica, de cunho racista. Waack afirma não se lembrar do que disse, já que o áudio não tem clareza, mas pede sinceras desculpas àqueles que se sentiram ultrajados pela situação.
William Waack é um dos mais respeitados profissionais brasileiros, com um extenso currículo de serviços ao jornalismo. A Globo, a partir de amanhã, iniciará conversas com ele para decidir como se desenrolarão os próximos passos."
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Veja o vídeo que causou o afastamento de Waack:
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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