Guinada na novela é a chance de Walcyr corrigir os muitos erros da 1ª fase
Mauricio Stycer
27/11/2017 05h01
No ar desde 23 de outubro, "O Outro Lado do Paraíso" chega nesta segunda-feira (27) ao 30º capítulo. Trata-se de um momento crucial – o ponto em que a trama dará um salto de dez anos e a sofrida mocinha, Clara (Bianca Bin), vai começar a se vingar de todos que a prejudicaram.
O fim desta primeira fase está sendo visto na Globo com alívio. Com a difícil missão de substituir "A Força do Querer", uma novela muito bem-sucedida, a trama de Walcyr Carrasco tem sido, até agora, uma decepção. A prometida guinada nesta segunda fase é tudo que o folhetim precisa neste momento.
Mas os erros são, até o momento, maiores que os acertos. "O Outro Lado do Paraíso" parece estar sendo escrita e feita às pressas, sem cuidado. Não dá a impressão de ser uma novela planejada durante meses.
É surpreendente constatar que algumas tramas são totalmente calcadas em histórias muito conhecidas. Como já mostrei aqui no blog, o drama de Elizabeth/Duda (Gloria Pires) é uma releitura, para não dizer cópia, do melodrama "Madame X".
Além de tantas "inspirações", o autor pesou a mão nos dramas de Clara e Elizabeth. Para a história avançar rapidamente, Carrasco precisou apresentar as duas personagens como cretinas absolutas, parvas. É uma muleta típica de histórias mal construídas.
Outro problema é a falta de cuidado com o texto. Nada de diálogos inteligentes ou provocativos. Tudo é dito de forma meio grosseira, sem sutileza. Esta dificuldade já havia aparecido nas duas novelas "adultas" recentes de Carrasco, "Amor à Vida" e "Verdades Secretas", mas ressurgiu de forma ainda mais gritante em "O Outro Lado do Paraíso".
Como ocorreu em "Amor à Vida", Carrasco atira em várias direções, para causar polêmica, mas não aprofunda nenhum assunto. Parece ser só para chocar: racismo, nanismo, violência contra mulher, o homossexual enrustido, uso de eletrochoque em clínica psiquiátrica etc etc
Enfim, tomara que estes problemas fiquem para trás a partir desta segunda-feira. Ao entrar em nova fase, espero que "O Outro Lado do Paraíso" encontre o prumo e se torne o bom entretenimento que o espectador aguarda da novela das 21h da Globo.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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