Topo

Por que a saga de Clara na novela lembra tanto “O Conde de Monte Cristo”?

Mauricio Stycer

05/12/2017 05h01


"Revenge" estreou em setembro de 2011, na rede ABC, alguns meses antes de "Avenida Brasil", lançada pela Globo em março de 2012. Fãs brasileiros da série americana logo enxergaram na trama central da novela, a saga de Nina, traços da história de Emily Thorne.

A acusação de plágio não prosperou porque, na verdade, tanto a série quanto a novela estavam bebendo numa mesma fonte clássica, o romance "O Conde de Monte Cristo", de Alexandre Dumas (1802-1870), também autor de "Os Três Mosqueteiros".

As aventuras do inocente Edmond Dantès foram publicadas originalmente em capítulos, em um jornal, entre 1844 e 1846, como um típico folhetim. E ganharam o mundo assim que foram compiladas em livro.

Quem nunca torceu pelo jovem inocente cuja vida é arruinada por figuras malignas e que, depois de anos, arquiteta um plano sofisticado para se vingar de todos que o prejudicaram?

O sucesso da história pode ser medido pelo número incontável de versões e adaptações que, ao longo dos anos, ganhou no cinema, no teatro e na televisão. "O Conde de Monte Cristo" é, enfim, uma obra bem conhecida, disponível ao leitor brasileiro em diferentes edições e em filmes.

Por tudo isso, tem causado surpresa e incômodo a muitos espectadores o fato de "O Outro Lado do Paraíso" lembrar tanto a história de Dumas. Plágio? Não. Diante de uma obra que é de domínio público e já ganhou tantas versões, não há restrições. É, então, uma inspiração?

O problema é que Walcyr Carrasco foi além da mera inspiração. Diferentemente de "Revenge" e "Avenida Brasil", que também beberam desta fonte, a história de Clara (Bianca Bin) reproduz sem disfarces inúmeros aspectos do drama de Dantès. Em alguns momentos, parece que o romance está sendo refeito.

O confinamento numa ilha, o isolamento por anos no hospício, a ajuda de uma mentora, a fuga dentro do caixão e o enriquecimento que virá posteriormente… Clara está passando, com mínimas variações, por tudo que o herói de Dumas experimentou.

O curioso, como apontei no blog em novembro, é que o autor de "O Outro Lado do Paraíso" já havia se apropriado de outro melodrama clássico, "Madame X", para desenvolver a história de Elizabeth/Duda (Gloria Pires).

Falta de imaginação de Carrasco? Preguiça criativa? Ou apenas reverência a histórias que são sucesso de público? Qualquer que seja a resposta, é compreensível que o espectador familiarizado com o romance ou com algum filme baseado no livro de Dumas se pergunte se está assistindo a uma cópia.

Foi a inspiração para criar a história de Clara, diz Walcyr Carrasco

No meio da tarde desta terça-feira (05), horas depois da publicação do texto acima, Walcyr Carrasco publicou esta imagem em sua conta no Instagram. É a ilustração de uma passagem marcante de "O Conde de Monte Cristo". O autor de "O Outro Lado do Paraíso" aproveitou para reconhecer publicamente, pela primeira vez, que o romance de Alexandre Dumas foi a fonte de inspiração para criar a história de Clara (Bianca Bin) na novela. Abaixo, a íntegra do seu comentário:

O Conde de Monte Cristo é um folhetim clássico francês que adoro e que me inspirei para criar a história de Clara em O Outro Lado do Paraíso. Alexandre Dumas, que morreu há 147 anos, narra a saga de Edmond, um marinheiro que é preso injustamente em uma armação. Na prisão, conhece um abade que lhe dá o caminho das pedras para um tesouro. Ele escapa, coloca a mão no tesouro e parte para sua vingança. Quem não leu, eu recomendo. É de grudar e não parar mais.

Atualizado às 22h.

Veja também
Guinada na novela é a chance de Walcyr corrigir os muitos erros da 1ª fase
Trama de O Outro Lado do Paraíso lembra filme americano; Globo nega plágio


Comentários são sempre muito bem-vindos, mas o autor do blog publica apenas os que dizem respeito aos assuntos tratados nos textos.

Siga o blog no Facebook e no Twitter.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.