Simone reproduz fake news sobre votos nulos no Faustão e não é contestada
Mauricio Stycer
18/03/2018 19h54
No esforço de instruir o brasileiro, lembrando todo domingo que "urna não é penico", Faustão conversou sobre a realidade do país com os cantores Ivan Lins e Simone no seu programa deste domingo (18). A certa altura, Simone fez uma defesa do voto nulo, reproduzindo uma notícia falsa que circula há anos sobre o assunto.
"A gente vive num país de corruptos e não existe nenhum exemplo de cima. Nada, nada. Não existe salvador da pátria. Nós somos os salvadores da pátria", disse ela, antes de começar a reproduzir bobagens. "Tem que entender melhor o que é não votar, anular o voto. Porque existe uma coisa na lei, que eu não posso te explicar porque também não sei… Mas se não houver maioria na primeira vez, as pessoas que estiverem concorrendo elas não poderão concorrer mais. Eles têm que ficar aquele período (oito anos no caso de senador e quatro anos no caso de deputado) sem concorrer. Mas isso não deixam aparecer."
Faustão respondeu: "Tem que se informar", mas não observou que Simone reproduziu mentiras. Não há nada na lei brasileira que dê respaldo a esta observação da cantora. Uma mensagem com teor semelhante ao que ela disse circula desde 2010 em tempos de eleição – já apareceu, até, falsamente atribuída ao juiz Sérgio Moro.
Uma eleição só é cancelada quando a maior parte dos votos fica nula em razão de uma irregularidade ou pela cassação da chapa do vitorioso. Em qualquer outra situação, a vitória de um candidato é determinada pelos votos válidos (os brancos e nulos são excluídos da conta).
Como o "Domingão do Faustão" está sendo exibido ao vivo, o apresentador não teve presença de espírito (ou conhecimento) para corrigir Simone na hora, mas poderia ter feito isso depois de um intervalo comercial. Um desserviço de inutilidade pública.
Entenda
Se a maioria votar nulo, a eleição é cancelada e os candidatos, suspensos?
Domingão do Faustão parece programa da GloboNews
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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