“Tempo de Amar” foi uma novela na TV e outra nas entrevistas do autor
Mauricio Stycer
20/03/2018 05h01
Terminou "Tempo de Amar", uma novela bonita, delicada, lenta, que convidou o espectador a um tipo de fruição diferente, de outros tempos. Velha, intencionalmente velha, com jeito de radionovela, falada em um português antigo, elegante, contou algumas histórias de amor ambientadas entre o Rio e o interior de Portugal, no final dos anos 1920.
Eu não teria muito a acrescentar ao que já escrevi sobre "Tempo de Amar", em especial estes dois textos e este vídeo que gravei:.
. Exagerando no drama, "Tempo de Amar" deveria se chamar "Tempo de Sofrer"
. Entre as novelas no ar, "Tempo de Amar" é a que dá mais prazer de assistir
. "Tempo de Amar" nos lembra que novelas nunca acabam na hora certa
Mas, em uma série de entrevistas divulgadas nos últimos dias, Alcides Nogueira e Jayme Monjardim, autor e diretor de "Tempo de Amar", descreveram uma novela muito diferente da que assisti. E, fato raro, discordei do balanço que o amigo Nilson Xavier fez da trama.
Mas acho que Alcides Nogueira foi pouco ambicioso no desenvolvimento da trama. Vários temas importantes sobrevoaram "Tempo de Amar", mas nenhum, de fato, aterrissou. Racismo, anarquismo, fim da República Velha e a crise de 1929 (que só afetou o vilão) foram lançados em cenas sem muita conexão ou desenvolvimento.
Mesmo a abordagem do feminismo, mais bem construída por meio de Olimpia (Sabrina Petraglia), não foi feliz. A personagem se apresentou de forma panfletária, inflexível, e não foi capaz de gerar nenhuma simpatia pelo tema.
Já a abordagem da febre amarela, em forma de ação de responsabilidade social, uma vez que a doença voltou a atingir grandes centros, não me pareceu nenhum mérito especial da novela – apenas uma oportunidade bem aproveitada.
Enfim, acho que Nogueira e Monjardim deram entrevistas (veja aqui, aqui e aqui) falando de uma novela com um pé na atualidade, muito mais ambiciosa do que a que foi exibida pela Globo. "Tempo de Amar" cumpriu o seu papel, encantou e divertiu, mas não é um folhetim que será lembrado entre os grandes.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
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